Subfertilidade e infertilidade em pacientes com doenças reumatológicas
Introdução
O prognóstico dos pacientes com doenças reumatológicas vem melhorando nos últimos 30 anos. O diagnóstico precoce, com melhor reconhecimento clínico das doenças, estabelecimento de critérios diagnósticos, introdução de testes laboratoriais com maior especificidade, controle das infecções, vacinações efetivas e surgimento de modalidades terapêuticas mais eficazes para controle das doenças aumentaram a sobrevida e qualidade de vida relacionada à saúde desses pacientes, emergindo questões relacionadas à função sexual e saúde reprodutiva1-10.
Fecundidade é definida como a probabilidade de alcançar a gravidez em cada ciclo ovulatório. Subfertilidade é um novo conceito e é definida como redução da eficiência reprodutiva, podendo retardar a ocorrência da gravidez. Por sua vez, a infertilidade é definida como a incapacidade de engravidar por um período acima de 12 meses nos casais sexualmente ativos e sem a utilização de métodos contraceptivos. A infertilidade deve ser avaliada no casal, podendo ocorrer exclusivamente em um dos parceiros ou mesmo em ambos, e pode necessitar de um tratamento de reprodução assistida2,9. Muitas vezes a causa da infertilidade está em um dos parceiros, que tem alguma doença reumatológica, mas pode ocorrer também no parceiro “saudável” e assim o casal deve ser sempre avaliado.
Nos últimos 15 anos consecutivos, o nosso grupo (Departamento de Pediatria e Disciplina de Reumatologia da FMUSP, em conjunto com: Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Disciplina de Urologia, Departamento de Psiquiatria, Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental do Departamento de Patologia e Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clinicas da FMUSP) tem estabelecido uma linha de pesquisa consolidada, estudando a saúde reprodutiva em adolescentes, jovens e adultos com doenças autoimunes reumatológicas1-47.
As causas de subfertilidade e infertilidade nas mulheres e homens que sofrem de doença reumatológica crônica são multifatoriais1-47. Os principais fatores gerais associados com infertilidade são: desnutrição, obesidade, radiação, poluentes atmosféricos e uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas1,2,8,9.
Doenças próprias do aparelho reprodutor feminino (tais como endometriose, síndrome dos ovários policísticos, infecções genitais e tumores)2,7 e do aparelho reprodutor masculino (tais como orquite, varicocele, criptorquidia, infecções crônicas e tumores), assim como cirurgias ginecológicas ou urológicas podem ser também a causa principal da infertilidade em um paciente com doença reumatológica e estas doenças devem ser sistematicamente excluídas2,5,6.
De modo geral, a capacidade reprodutiva é adequada nos pacientes com doenças reumatológicas, em ambos os gêneros. No entanto, alguns pacientes com algumas doenças reumatológicas e em uso de tratamentos específicos podem apresentar subfertilidade e infertilidade “transitória ou permanente” e necessitam, em algumas situações, de medidas específicas para preservação ovariana e testicular para futura fertilização in vitro1-3,5,6.
Disfunção do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, autoimunidade com a produção de autoanticorpos (como anticorpos anticorpo lúteo, antiendométrio e antiespermatozoides), atividade da doença, insuficiência renal crônica e drogas imunossupressoras podem induzir subfertilidade e infertilidade em pacientes com doenças reumatológicas1-9.
Além disso, há aspectos anatômicos da função gonadal, assim como fatores específicos de subfertilidade e infertilidade em mulheres11-29 e homens30-47, distintos nas diferentes doenças reumatológicas. Esta revisão narrativa será dividida em duas seções, de acordo com o gênero.
Correspondência: Dr. Clovis Artur Almeida da Silva, e-mail: [email protected].
Como citar este artigo: Silva CA. Subfertilidade e infertilidade em pacientes com doenças reumatológicas. Rev Paul Reumatol. 2016 abr-jun;15(2):12-24. DOI: https://doi.org/10.46833/reumatologiasp.2016.15.2.12-24.
O autor recebeu recente apoio científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP 2014/14806-0), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq 303422/2015-7), da Federico Foundation (Suíça) e do Núcleo de Apoio à Pesquisa “Saúde da Criança e do Adolescente”, da Universidade de São Paulo (NAP-CriAd).
O autor declara não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e empresas descritos neste artigo.
O conteúdo completo está disponível apenas para associados
Associe-se agora ou acesse sua conta se já for associado