Rememorando o perigo: os discursos da mídia nas sucessivas retomadas dos grandes acidentes de origem científico-tecnológica
DOI:
https://doi.org/10.19132/1808-5245251.159-184Palavras-chave:
Risco científico. Discurso. Mídia. Memória. Celebração.Resumo
Embora focando o discurso jornalístico, este artigo discute a relação entre a informação apresentada em veículo de comunicação e sua repercussão no imaginário social. Essa aproximação entre as questões informacionais e as comunicacionais permite refletir teoricamente a respeito de seus impactos sobre a construção simbólica da população que recebe a informação. Além disso, ilustra o aparato teórico que estabelece relação direta entre informação e memória. É o que será abordado neste artigo. A referência a alguns dos piores desastres no cenário mundial leva em consideração aqueles que tiveram maior efeito sobre as pessoas e o meio ambiente. Observar os discursos jornalísticos empregados nos aniversários de grandes tragédias pode ajudar a descobrir o que pode ser apreendido em relação à essas rememorações periódicas que a mídia realiza, no intuito de compreender seu impacto no imaginário social. A rememoração cíclica dos grandes acidentes mundiais é o viés escolhido para analisar a memória de construção do discurso provocador do medo atômico. Trabalha-se com as múltiplas representações que a ideia de tempo pode ter dentro do jornalismo e observa-se que, ao celebrizar este ou aquele acontecimento, repetindo-o a cada período de tempo, a mídia se aproveita dele para autopromoção. O tempo e a memória representam estratégias discursivas para o jornalista, pois os vários usos do passado podem construir novas redes de sentido aos acontecimentos atuais, fazendo com que o valor-notícia desses fatos aumente. Como ilustração dessa premissa, analisam-se alguns artigos de celebrações de acidentes de origem nuclear: Chernobyl, em 1986, e Fukushima, em 2011, através dos quais, devido à uma distância temporal de 25 anos, é possível observar e ponderar sobre os discursos pré-construídos e os discursos transversos a esses acontecimentos, em um processo histórico de interpretação e de disputa na produção de sentidos.
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