Acessibilidade / Reportar erro

Doces práticas para matar: demissão e downsizing na perspectiva de demissores e profissionais de recursos humanos

Resumos

As empresas diminuem tão freqüentemente sua força de trabalho que é raro, hoje, encontrar alguém que nunca tenha sido demitido. Embora já tenham sido realizados muitos estudos sobre os efeitos da demissão nos demitidos e sobreviventes, chama a atenção que a literatura na área de recursos humanos, de modo geral, não contemple as atividades de gerenciamento das demissões. Fala-se dos quatro pilares da área de recursos humanos: recrutamento, seleção, avaliação de desempenho, desenvolvimento e remuneração, mas o tema da demissão parece estar discretamente omitido. O objetivo deste trabalho é descrever como as práticas de demissão são construídas nas organizações, a partir da perspectiva de demissores e profissionais de recursos humanos. A comunicação desempenha um papel essencial nessa construção já que é necessário indicar um sentido de coerência para o conjunto de ações que cercam todo este processo. A retórica, já descrita por Legge (1995), de que precisamos ser cruéis para amar, descreve a lógica presente na estruturação das práticas organizativas em demissão e downsizing. O artigo mostra, também, como a linguagem utilizada pela área de Recursos Humanos contém uma ambigüidade útil que atende aos interesses organizacionais.


Firms downsize their work force so frequently that it is rare to meet someone nowadays who has never been fired. Many studies have been conducted about dismissal effects on layoff victims and survivors, but the literature on HRM does not explore enough the process of dismissal. Issues as recruitment, selection, performance appraisal, development and compensation are always presented but dismissal seems to be omitted. The objective of this work is to describe how the practices of dismissal are constructed on the organization, from the perspective of agents of dismissal and human resources managers. During this process, communication represents an essential role since it's necessary to construct coherent meanings to actions. As showed by Legge, 1995, rhetoric of tough love describes the logic of the organization's practices of dismissal and downsizing. The article also shows how the language proposed by the Human Resources has a useful ambiguity which attends the interests of the organizations.


ARTIGOS

Doces práticas para matar: demissão e downsizing na perspectiva de demissores e profissionais de recursos humanos1 1 . As autoras agradecem o financiamento para a pesquisa recebido do GV Pesquisa da FGV-EAESP, e o trabalho de Priscila Fonseca, que participou como bolsista de Iniciação Científica neste projeto.

Ana Luisa Vieira PliopasI; Maria José TonelliII

IProfª EAESP-FGV

IIProfª EAESP-FGV

RESUMO

As empresas diminuem tão freqüentemente sua força de trabalho que é raro, hoje, encontrar alguém que nunca tenha sido demitido. Embora já tenham sido realizados muitos estudos sobre os efeitos da demissão nos demitidos e sobreviventes, chama a atenção que a literatura na área de recursos humanos, de modo geral, não contemple as atividades de gerenciamento das demissões. Fala-se dos quatro pilares da área de recursos humanos: recrutamento, seleção, avaliação de desempenho, desenvolvimento e remuneração, mas o tema da demissão parece estar discretamente omitido. O objetivo deste trabalho é descrever como as práticas de demissão são construídas nas organizações, a partir da perspectiva de demissores e profissionais de recursos humanos. A comunicação desempenha um papel essencial nessa construção já que é necessário indicar um sentido de coerência para o conjunto de ações que cercam todo este processo. A retórica, já descrita por Legge (1995), de que precisamos ser cruéis para amar, descreve a lógica presente na estruturação das práticas organizativas em demissão e downsizing. O artigo mostra, também, como a linguagem utilizada pela área de Recursos Humanos contém uma ambigüidade útil que atende aos interesses organizacionais.

ABSTRACT

Firms downsize their work force so frequently that it is rare to meet someone nowadays who has never been fired. Many studies have been conducted about dismissal effects on layoff victims and survivors, but the literature on HRM does not explore enough the process of dismissal. Issues as recruitment, selection, performance appraisal, development and compensation are always presented but dismissal seems to be omitted. The objective of this work is to describe how the practices of dismissal are constructed on the organization, from the perspective of agents of dismissal and human resources managers. During this process, communication represents an essential role since it's necessary to construct coherent meanings to actions. As showed by Legge, 1995, rhetoric of tough love describes the logic of the organization's practices of dismissal and downsizing. The article also shows how the language proposed by the Human Resources has a useful ambiguity which attends the interests of the organizations.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • ALBUQUERQUE, P. P. Reengenharia. In: CATTANI, A.D. (Org.) Trabalho e tecnologia: dicionário crítico. Petrópolis: Vozes, 1997. p.107-202.
  • APPELBAUM, S. H.; SIMPSON, R.; SHAPIRO, B.T. The tough test of downsizing. Organizational Dynamics, New York, v. 16, n. 2, p. 68-80, Autumn 1987.
  • BERGER, P .L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
  • BROCKNER, J. Managing the effects of layoffs on survivors. California Management Review, Berkerley, v. 34, n. 2, p. 9-29, winter 1992.
  • CALDAS, M.P. Demissão: causas, efeitos e alternativas para empresa e indivíduo. São Paulo: Atlas, 2000.
  • CAMERON, K. Strategies for successful organizational downsizing. Human Resource Management, Ann Arbor, v. 33, n. 2, p. 189-212, Summer 1993.
  • CATTANI, A.D. (Org.). Trabalho e tecnologia: dicionário crítico. Petrópolis: Vozes, 1997.
  • CRESWELL, J. W. Research design: qualitative, quantitative and mixed methods approaches. 2. ed. Thousand Oaks: Sage, 2003.
  • CROFTS, P. Outplacement: a way of never having to say you're sorry? Personnel Management, Chicago, v. 24, n. 5, p. 46-51, May, 1992.
  • EDWARDS, P. & WAJCMAN, J. The politics of working life. New York, Oxford University Press, 2005.
  • EISENBERG, P.; LAZARSFELD, P.F. The psychological effects of unemployment. Psychological Bulletin, Washington, v. 35, p. 358-390, 1938.
  • FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio de língua portuguesa. São Paulo, 2003. Acesso em 13 out. 2003. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/aurelioindexresult.html?stype=k&verbete=retorica&x=11&y=4>
  • FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa, Porto Alegre, Bookman, 2004.
  • FOMBRUN, C., TICHY, N. DEVANNA, M.A. Strategic human resource management. New York: Jhon Wiley & Sons, 1984.
  • FREEMAN, S., KIM, S., CAMERON, K.S. Organizational downsizing: a convergence and reorientation framework. Organization Science, Linthicum, v. 4, n.1, p. 10-29, Feb. 1993.
  • GALEAZZI, I. Precarização do trabalho. In: CATTANI, A.D. (Org.) Trabalho e tecnologia: dicionário crítico. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 268-274.
  • GUEST, D. Human resource management and the American dream. Journal of Management Studies, Oxford, v. 27, n. 4, July 1990.
  • KEENOY, T. HRM: a case of the wolf in sheep's clothing? Personnel Review, Bradford, v. 19, n. 2, 1990.
  • KEENOY, T. The roots of metaphor in the old and the new industrial relations. British Journal of Industrial Relations, London, v. 29, n. 2, June 1991.
  • KEENOY, T. HRM: as hologram: a polemic. Journal of Management Studies, Oxford, v. 36, n. 1, p. 1 -23, Jan. 1999.
  • LACOMBE, B. M. B.; TONELLI, M. J. O discurso e a prática: o que nos dizem os especialistas e o que nos mostram as práticas das empresas sobre os modelos de gestão de recursos humanos. Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, Maio/Ago. 2001.
  • LATACK, J.C. DOZIER, J. B. After the ax falls: job loss as a career transition. Academy of Management Review, Ohio, v. 11, n. 2, p. 375-392, 1986.
  • LATACK, J. C. KINICKI, A. J.; PRUSSIA, G. E. An integrative process model of coping with job loss. Academy of Management Review, Briarcliff Manor, v. 20, n. 2, p. 311-342, Apr. 1995.
  • LEGGE, K. Human resource management: rhetoric and realities. Hampshire: Palgrave, 1995.
  • LEGGE, K. Human resource management. In: ACKROID, S., BATT, R., THOMPSON, P., TOLBERT, P. The oxford Handbook of Work & Organization, New York, The Oxford University Press, 2005.
  • LIEDKE, E. R. Trabalho. In: CATTANI, A. D. (Org.). Trabalho e tecnologia: dicionário crítico. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 268-274.
  • MISHRA, A. K.; SPREITZER, G. M. Explaining how survivors respond to downsizing: the roles of trust, empowerment, justice and work redesign. Academy of Management Review, Briarcliff Manor, v. 23, n.3, p. 567-588, July 1998.
  • MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo, ed. Atlas, 1996.
  • NOER, D. Healing the wounds: overcoming the trauma of layoffs and revitalizing downsized organizations. San Francisco: Jossey-Bass, 1993.
  • SILVERMAN, D. Analyzing talk and text. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. Handbook of qualitative research, UK, Sage Publication, 2000, 2nd editon.
  • SCHWANDT, T. Three epistemological stances for qualitative inquiry: interpretativism, hermeneutics and Social constructionism. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. Handbook of qualitative research, UK, Sage Publication, 2000, 2nd editon
  • SPINK, M. J. P. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. Petrópolis: Vozes, 2003.
  • SPINK, M. J.; FREZZA, R. M. Práticas discursivas e produção de sentidos: a perspectiva da Psicologia Social. In: SPINK, Mary Jane (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
  • SPINK, M. J.; LIMA, H. Rigor e visibilidade: a explicitação dos passos da interpretação. In: SPINK, Mary Jane (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
  • SROUR, R. H. Ética empresarial: a gestão da reputação. Rio de Janeiro, Editora Campus, 2003, 2ª. Edição.
  • STAEHLE, W. H. Human resource management and corporate strategy. In: PIEPER, R. Human resource management: an international comparison. New York: Walter de Gruyer, 1990.
  • STOREY, J. Human resource management today: an assessment. In: Human resource management: a critical text. London: Thomson Learning, 2001.
  • TOMASKO, R. M. Downsizing: reformulando e redimensionando sua empresa para o futuro. São Paulo: Makron Books, 1992.
  • WOOD JR, T.; DE PAULA, A. P. P.. Pop management: a literatura popular de gestão no Brasil. São Paulo: FGV/EAESP, 2002. (Relatório de Pesquisa, n. 3/2002).
  • 1
    . As autoras agradecem o financiamento para a pesquisa recebido do GV Pesquisa da FGV-EAESP, e o trabalho de Priscila Fonseca, que participou como bolsista de Iniciação Científica neste projeto.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Set 2007
    Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
    E-mail: revistaoes@ufba.br