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Abscesso esplênico

Splenic abscess

Resumo

Splenic abscess is a rare disease usually associated with immunosuppressed states. Its diagnosis may be difficult due to non-specific symptoms . The authors report a case of a healthy woman, 42 years old, bearer of splenic and renal abscesses , treated with antibiotics and splenectomy. A review of the literature is presented with emphasis on the diagnosis and treatment.

Splenic abscess; Splenectomy


Splenic abscess; Splenectomy

RELATO DE CASO

Abscesso esplênico

Splenic abscess

Francisco Edilson Leite Pinto Júnior, TCBC-RNI; Ariano José Freitas de Oliveira, RCBC-RNII; Aldo da Cunha Medeiros, TCBC-RNIII

IProfessor Assistente da Disciplina de Técnica Operatória-Cirurgia Experimental e Coordenador da Residência de Cirurgia Geral da UFRN. Mestre em Cirurgia Gastroenterológica pela UFPE

IIResidente de Cirurgia Geral da UFRN

IIIChefe da Disciplina de Técnica Operatória-Cirurgia Experimental da UFRN. Doutor em Cirurgia. Pesquisador do CNPq

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Francisco Edilson Leite Pinto Junior Av. Brigadeiro Gomes Ribeiro, 1.025 59056-520 – Natal-RN E-mail: edilsonpinto@uol.com.br

ABSTRACT

Splenic abscess is a rare disease usually associated with immunosuppressed states. Its diagnosis may be difficult due to non-specific symptoms . The authors report a case of a healthy woman, 42 years old, bearer of splenic and renal abscesses , treated with antibiotics and splenectomy. A review of the literature is presented with emphasis on the diagnosis and treatment.

Key words: Splenic abscess; Splenectomy.

INTRODUÇÃO

O abscesso esplênico é uma doença incomum e o seu diagnóstico permanece um desafio, ainda na atualidade. Até 1986, cerca de 400 casos foram relatados na literatura inglesa. 1

Entretanto, na última década houve um aumento da sua incidência, tendo em vista o maior uso de drogas quimioterápicas em doentes oncológicos, drogas imunossupressoras em transplantados e o maior número de doentes acometidos pela síndrome da imunodeficiência adquirida.1,2

O objetivo do presente trabalho é relatar o caso de uma paciente, sem evidência de estado de imunodepressão, acometida por abscesso esplênico.

RELATO DO CASO

Mulher branca, 42 anos, passou a apresentar dor no hipocôndrio esquerdo (HE), em pontada, associada com febre, calafrios, astenia, anorexia e disúria cinco dias antes da internação. Não havia história de traumatismo abdominal ou de que estivesse recebendo medicação imunossupressora. Ao exame encontrava-se com bom estado geral e nutricional, corada e hidratada. O abdome era flácido, porém com discreta dor à palpação profunda no HE. Os exames laboratoriais evidenciavam 16.000 leucócitos, com 5% de bastões; hematócrito de 35%. O exame de urina apresentava seis piócitos por campo. Foi medicada com norfloxacin pela suspeita de infecção urinária. Entretanto, não houve melhora da sintomatologia.

Dessa forma, foi solicitada ultra-sonografia abdominal que revelou imagem hipoecogênica, contendo líquido espesso, de, aproximadamente, 3,2 x 3,2 x 3,3cm de diâmetro, localizada no rim direito, e coleção na topografia do baço sugestiva de abscesso esplênico. A tomografia computadorizada confirmou a presença de abscesso renal direito e observou volumosa coleção líquida no interior do baço (240ml), medindo cerca de 9,2 x 7,0cm (Figura 1).


Iniciou-se a antibioticoterapia venosa, com penicilina cristalina, amicacina e metronidazol. Houve queda do estado geral e optou-se pelo tratamento cirúrgico, após utilização de vacina antipneumocócica. Foi realizada esplenectomia total (Figura 2) com drenagem do espaço subdiafragmático esquerdo. A cultura revelou E. coli. A paciente recebeu alta sete dias após a operação.


DISCUSSÃO

Abscesso esplênico é uma enfermidade rara associada com estados de imunossupressão, sendo uma das causas de sepse intra-abdominal. Estudos de autópsias indicam uma incidência de 0,14% a 0,7%. É mais freqüente no sexo masculino (2:1) e na raça branca.1,2

Entre os microrganismos envolvidos destacam-se as bactérias aeróbicas, em particular o Stafilococcus, a Salmonella e a Escherichia coli. Os fatores predisponentes tradicionalmente associados ao desenvolvimento do abscesso esplênico são: trauma esplênico, quimioterapia, bacteriemia (especialmente associada com endocardite e infecção urinária), infecções contíguas e tumores benignos (cisto e hemangioma) e malignos do baço.1,3

O diagnóstico clínico é difícil, pois os sintomas clássicos tais como: febre, calafrios e dor no hipocôndrio esquerdo associados com leucocitose são sugestivos, porém, inespecíficos. A febre encontra-se presente em 90% dos casos.1,2,3

O melhor exame para investigação inicial de um paciente com suspeita de abscesso esplênico é a ultra-sonografia (US) pelo seu baixo custo e fácil acesso. Na maioria dos casos, evidenciam-se lesões anecóicas ou hipoecóicas, com paredes irregulares, associadas com esplenomegalia. Entretanto, a tomografia computadorizada (TC) é o exame de maior precisão, pois define a localização exata do abscesso ( subcapsular ou periesplênica).4,5

A cintilografia com tecnécio 99m pode ser utilizada, contudo, os altos índices de resultados falsos negativos desestimulam o seu uso.4

A maioria dos abscessos é isolada, unilocular e com tamanho que varia de 1 a 18cm4.

A introdução da antibioticoterapia diminuiu significativamente a mortalidade nesta doença. Porém, não deve ser utilizada isoladamente, tendo em vista que a mortalidade pode atingir aproximadamente 100%.2

A drenagem percutânea guiada pela US ou TC tem obtido sucesso em 75% dos casos, sendo útil quando há contra-indicação para o tratamento cirúrgico ou em pacientes jovens, onde a preservação esplênica é desejada. Todavia, o tratamento definitivo é a esplenectomia.1,2

As principais complicações evidenciadas estão relacionadas à ruptura para a cavidade peritoneal, para órgão contíguo (fístulas esplenocólicas e esplenogástricas) e transdiafragmáticas.3

No caso ora relatado, apesar de a paciente não ter mencionado o uso de drogas imunossupressoras, apresentava um quadro de infecção urinária que pode ter sido o fator predisponente para o surgimento do abscesso esplênico. Optou-se pela esplenectomia devido ao tamanho da lesão e por esse método apresentar os melhores resultados.

Recebido em 31/3/99

Aceito para publicação em 17/11/99

Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

  • 1. Chun CH, Raff MJ, Contreras L Splenic abscess. Medicine 1980; 59:50-65.
  • 2. Ho HS, Wisner DH Splenic abscess in the intensive care unit. Arch Surg. 1993; 128:842-848.
  • 3. Rieber K, Leventhal I- Splenic abscess as a complication of perinephric abscess. Urology. 1987; 30:269-271.
  • 4. Srp A, Bruna J Computed tomography of the spleen. Acta Univ Carol Med. 1989; 35:11-30.
  • 5. Chou YH, Hsu CC, Tiu CM, et al Splenic abscess: Sonographic diagnosis and percutaneous drainage. Gastrointest Radiol.1992;17:262-266.
  • Endereço para correspondência:
    Dr. Francisco Edilson Leite Pinto Junior
    Av. Brigadeiro Gomes Ribeiro, 1.025
    59056-520 – Natal-RN
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jan 2009
    • Data do Fascículo
      Jun 2000

    Histórico

    • Aceito
      17 Nov 1999
    • Recebido
      31 Mar 1999
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