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Dicionário de Relações Internacionais

RESENHA

Dicionário de Relações Internacionais* * Resenha de SILVA, Guilherme A.; GONÇALVES, Williams. Dicionário de Relações Internacionais. Barueri, SP: Manole, 2005. ISBN 85-204-1945-3

Ricardo dos Santos Poletto

Bacharelando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília UnB (rspoletto@yahoo.com)

Um dicionário temático consiste em uma seleção de termos de uma dada ciência ou área de estudos com a finalidade de oferecer um referencial de conceitos reputados como instrumentais. Ainda que não sejam consideradas uma ciência, as Relações Internacionais é um campo de estudos em franca expansão, de forma que não faria mais sentido reservar a elas modestas linhas estancadas em grandes volumes de Ciências Sociais ou Ciência Política. Considerados o instrumental teórico particular e a constituição de núcleos semânticos assimilados por sua literatura, as RI alcançaram um grau de maturidade que lhes permitiram requerer um ambiente específico de domínio léxico. O Dicionário de Relações Internacionais vem, portanto, responder a uma demanda decorrente do crescente interesse profissional e intelectual por temas com implicações globais. É nesse quadro que se insere a oportuna obra de Guilherme Silva e William Gonçalves.

No prefácio da obra, os autores explicitam algumas noções prévias, dentre as quais destaca-se a idéia de que os conceitos capturam contextos sociais e, logo, são sujeitos à dinâmica do ambiente político e sócio-cultural. Ao partir da lógica de que conceitos apresentados estão longe de serem absolutos, os autores se defrontam com o desafio de lidar com polissemias, resultado de orientações variadas e circunstancialidades temporais, cujos exemplos clássicos são os vocábulos "desenvolvimento" e "segurança". Da mesma maneira, os autores não se furtam ao movediço terreno de termos como "globalização" e "terrorismo".

O corpo do dicionário é constituído por cerca de oitenta verbetes. A seleção contempla com justiça e eficiência o grosso das Relações Internacionais. Entretanto, em função de sua opção pela acessibilidade, não há espaço aos debates teóricos e conceituais mais profundos. Há uma tendência clara no sentido de apresentar uma terminologia prática para as questões contemporâneas, o que, em alguma medida, ocorreu em detrimento de um resgate histórico mais completo; Alca, Consenso de Washington e Grupo de Cairns ocuparam espaço nessa esteira, ao passo que a Santa Aliança (1815) foi o mais longe na História que o dicionário optou por abarcar. Muitos leitores sentirão a falta de um verbete próprio para a Paz de Westfália (1648) que, muito embora seja citada no verbete "Diplomacia", teve sua importância conceitual reduzida. As ausências da Escola Inglesa, Governança, Cooperação Internacional e do Behavioralismo, embora tangenciados, são também significativas. De forma geral, contudo, há um balanceamento nos termos do dicionário que conferem equilíbrio à obra, passando dos insumos básicos (Estado, Anarquia, Poder, Hegemonia, Diplomacia) aos constructos teóricos fundamentais (Idealismo, Realismo, Construtivismo, Regimes, Teoria dos Jogos). A inclusão do verbete Armas de Destruição em Massa (ADM), incorporado em definitivo ao vocabulário dos noticiários internacionais, representa bem o esforço pragmático dos autores, atentos aos debates atuais, voltados para um público leitor quase que irrestrito.

Os textos que acompanham os verbetes são, via de regra, diretos e, como convém a um dicionário, eficientes na transmissão das idéias. Quando exigidos, datas, eventos, autores e exemplificações são escalados para inteirar os significados em perspectiva. Vale notar também o elogiável esforço de relacionamento dos verbetes nos textos analíticos, compondo um quadro de conexões terminológicas que favorece a percepção de que, de fato, existe um instrumental próprio para a reflexão integrada das RI.

Em linhas gerais, a contribuição do Dicionário de Relações Internacionais é expressiva, na medida em que constitui um canal para a compreensão dos fenômenos internacionais com abertura, sem as tecnicidades que repelem o grande público interessado em compreendê-los. O perfil norteador do dicionário o distancia das proposições de manual e sua utilidade para um iniciado em RI e para um leigo são, naturalmente, bem distintas. Ainda assim, caberia aludir que, em edições futuras, os verbetes fossem acompanhados da bibliografia diretamente relacionada, a partir da qual o leitor pudesse buscar o aprofundamento de conceitos e temas, habituando-se à literatura de RI e potencializando o uso da obra de referência. Há, em suma, um passo importante para a melhoria da qualidade da reflexão sobre temas globais no Brasil, garantindo às RI o devido reconhecimento de sua relevância para a produção do conhecimento no mundo contemporâneo.

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    Resenha de SILVA, Guilherme A.; GONÇALVES, Williams.
    Dicionário de Relações Internacionais. Barueri, SP: Manole, 2005. ISBN 85-204-1945-3
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Abr 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2006
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