REDCPS - Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde

Número: 4.1 - 12 Artigos

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DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/2446-5682.20190012

Artigo de Reflexao

Pesquisas qualitativas: formulações discursivas no domínio da enfermagem

Qualitative research: discursive formulations in nursing

Gleidilene Neves da Silva; Thalyta Ketlen de Melo Oliveira; Vitória Lucas Cid; Leticia Souza Moreno Dantas; Natalia Carvalho Barbosa de Sousa; Tiago Matos Dourado; Paulo Sérgio da Silva

Universidade Federal de Roraima - UFRR, Av. Cap. Ene Garcês, n° 2413, CEP: 69310-000, Aeroporto, Boa Vista - RR, Brasil

Endereço para correspondência

Paulo Sérgio da Silva
Rua São Francisco - 339, Bairro Fátima
Teresópolis - RJ, Brasil. CEP: 25957-002
E-mail: pssilva2008@gmail.com

Recebido em 11/10/2019
Aceito em 04/03/2020

Resumo

OBJETIVO: Refletir sobre as pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem.
METODOS: Trata-se de um ensaio teórico-reflexivo que apresenta formulações contextuais sobre o método qualitativo e técnicas de entrevistas.
RESULTADOS: As reflexões foram agrupadas em dois pilares conceituais. O primeiro pilar apresenta uma discussão teórica sobre o método qualitativo. Já o segundo pilar, versou sobre as técnicas de entrevistas para produção de dados que subsidiem pesquisas qualitativas.
CONCLUSÃO: As pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem retratam uma comunicação científica preocupada com elementos da subjetividade que são encontradas nas cenas de cuidado. Quanto às técnicas de entrevistas, foram evidenciados como fatores que implicam na produção dos dados no campo: comunicação clara com o entrevistado, ambiente de produção de dados tranquilo, tempo do entrevistado para responder o instrumento de coleta de dados, extensão do roteiro de entrevista e uso de instrumentos acessórios de voz e imagem para produção de dados.

Palavras-chave: Conhecimento; Pesquisa; Pesquisa em enfermagem; Pesquisa qualitativa; Entrevista.

 

INTRODUÇÃO

De saída, é oportuno contextualizar que as formulações discursivas de efeito teórico-reflexivo retratam as pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem. Substancialmente, o que se atesta dia após dia, é um avanço vertiginoso na produção de conhecimento na área da enfermagem com um forte apelo para questões de inovação tecnológica.

Este panorama sinaliza no campo das pesquisas qualitativas emergentes abordagens e técnicas em pesquisa capazes de atender aos padrões comportamentais contemporâneos, identidades territoriais, formas de organização social, econômica, política, cultural, educacional, científica e de produção de cuidado por enfermeiros junto ao Sistema Único de Saúde (SUS).

A opção em refletir sobre as pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem, invariavelmente coloca investigadores em práticas e saberes desafiadores, como: buscar formulações para organização de uma escrita qualitativa que seja capaz de contribuir para as modelagens tecnológicas e assistenciais sobre os objetos de estudo que tocam as palavras de ordem: cuidado de enfermagem.

Acredita-se que tais desafios também servem para pensar sobre enfermeiros e estudantes de enfermagem, habituados a enfrentar os dilemas humanos, assistenciais, educacionais e científicos. Uma aventura que aflora produções de discursos que apresentam significados específicos e merecem destaque por aqueles que assumem o método qualitativo como ponto de partida investigativo.

Nesta perspectiva, é preciso considerar a tentativa de produzir formulações, cuja busca de fundamentações teóricas envolvem diretamente uma aposta no pensamento contemporâneo. Isso porque as pesquisas qualitativas podem ser integradas a outras concepções metodológicas, superando assim o isolamento científico do método na produção de um saber.

É instigante pensar as pesquisas qualitativas mediante emergentes caminhos que minimizem nos pesquisadores, enfermeiros, docentes e estudantes de enfermagem o legado de valorizar apenas uma fonte de conhecimento para pensar o cuidado. Aqui, estas provocações foram produzidas no módulo “Organização dos Serviços de Saúde”, quando estudantes de enfermagem coletivamente produziram um instrumento investigativo semiestruturado seguido por entrevistas com enfermeiros gerenciais em ambientes hospitalares.

Com esta dimensão situacional, emergiram discussões teóricas e metodológicas das pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem, o que garante confirmar o caráter profícuo deste ensaio reflexivo, que, de fato, se aventura no plano da subjetividade para pensar as investigações na área da enfermagem.

Com essa noção elementar, far-se-á ressonância mútua entre os núcleos teóricos, pesquisas qualitativas e enfermagem, em uma relação que se movimenta no cotidiano de ensinar o cuidado. Dado que o interesse deste ensaio está centrado nas reflexões sobre o método qualitativo no domínio da enfermagem, emerge a seguinte questão norteadora das formulações: quais são os diálogos científicos estabelecidos entre as pesquisas qualitativas e a enfermagem? Para responder a esta indagação, não há enredo a priori e considera-se que se está cercado por diversos contornos teóricos a serem objetivados na forma de reflexões.

No plano metodológico para criação de reflexões deste manuscrito, é fundamental destacar o papel do ensaísta, entendido como aquele que é capaz de transgredir a forma tradicional de pensar a realidade. É antes de tudo experimentador e não reprodutor de conhecimento ou produto de reflexões presas à formalidade do método. É por meio do ensaio que a enfermagem deve possibilitar um vira- ser, ou seja, elo entre o conhecimento existente e novo, baseados na originalidade(1).

Baseado nisso, a criação de reflexões perpassa pela ação do pensamento que investiga a si mesmo, volta-se sobre si mesmo, examinando a natureza de sua própria atividade e estabelecendo os princípios que a fundamentam. Caracteriza, assim, a consciência crítica, isto é, a consciência na medida em que examina sua própria constituição, seus próprios questionamentos(2).

Orientados por estas contextualizações preliminares, o que emerge para pensar a pesquisa qualitativa são formulações de cunho teórico que trazem sua indissociabilidade metodológica com a enfermagem. Baseado nesta íntima relação foi traçado o seguinte objetivo: refletir sobre as pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem.

Na condição de ensaístas e curiosos para compreender os fenômenos por associações ou analogias, rendemo-nos aqui ao formalismo da técnica científica tradicional para experimentar as diversas possibilidades de um vir-a-ser do objeto analisado, nesse caso as pesquisas qualitativas na enfermagem(1).

Rumo à reflexão, que versa sobre as formulações metodológicas das pesquisas qualitativas no plano da enfermagem, optou-se por organizar os conteúdos em dois pilares conceituais, dispostos a seguir como resultados deste manuscrito.

 

PRIMEIRO PILAR CONCEITUAL: FORMULAÇÕESTEÓRICAS SOBRE O MÉTODO QUALITATIVO

As formulações teóricas sobre o método qualitativo apontam para realização de pesquisas no campo social, possibilitando ao pesquisador compreender características específicas ao se trabalhar com fatos e processos particulares de grupos ou indivíduos(3).

Com isso, dentre as possibilidades relacionadas aos referenciais teóricos e metodológicos, a pesquisa qualitativa, apresenta- se como um campo investigativo concreto(4). Cabe sublinhar que as pesquisas qualitativas e quantitativas se complementam, porém, suas naturezas são diferentes. Uma desenvolve a significância dos fenômenos e, a outra, a sua intensidade(5).

Durante muito tempo, pesquisadores das ciências naturais e exatas viam a pesquisa qualitativa com certo grau de desconfiança, principalmente no que diz respeito a sua validade e confiabilidade, pois essas ciências tratavam seus dados de pesquisa por meio de métodos quantitativos(3).

Nesse sentido, como forma de legitimar as pesquisas qualitativas, muitos pesquisadores incorporaram em seus estudos referências metodológicas quantitativas, sobretudo nos objetos investigativos que não eram tradicionalmente permeados pelas relações humanas, nem naquilo que abrangia essas relações, como a subjetividade, os comportamentos, as representações e o simbólico(4).

O fato é: o método qualitativo possibilita descrever e compreender as qualidades de qualquer objeto de estudo. Dessa forma, o referido método preocupa-se mais com o aprofundamento, com a dimensão e a diversidade no processo de compreensão de dados, e menos com generalização e as generalidades. Seu principal critério não é numérico(5). O objeto é essencialmente qualitativo, quando se refere a uma relação que é indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, o mundo real e o sujeito, pressupostos que servem como ponto de partida para a pesquisa qualitativa(3).

O método qualitativo é semelhante a um campo de discussão que suas bases oferecem sustentação para uma proposta de investigação. Diga-se que mediante as possibilidades de produção do conhecimento, o pesquisador inicia sua atividade em pesquisa qualitativa, por meio das diversidades de ideias compreendidas em paradigmas, métodos, enfoques, teorias, procedimentos, entre outros(4).

Há que se considerar ainda que a pesquisa qualitativa pode ser considerada um suporte para as investigações com amostras grandes, colocando a influência dos fatores socioculturais nos serviços de saúde e como os dados estatísticos podem ser melhores compreendidos quando o contexto social é analisado. Dessa forma, percebe-se que a pesquisa qualitativa tem uma grande contribuição para que os processos da vida sejam compreendidos. Especificamente na área da saúde a pesquisa qualitativa tem grande amplitude e é usada por diferentes categorias profissionais(6).

Mesmo que muitas vezes as extensões metodológicas e epistemológicas estejam de maneira informal nos textos e discussões científicas, observa-se que, a pesquisa na área da saúde vem se caracterizando pelo uso da pesquisa qualitativa como forma de produzir e divulgar o conhecimento. No campo da pesquisa qualitativa em saúde, a metodologia é compreendida tanto como uma forma de levantamento, quanto de análise da informação, adotando-a, comumente, como forma de organização dos estudos(4).

Um trabalho científico que busca utilizar uma metodologia mais próxima da realidade a ser pesquisada deve proporcionar ao pesquisador compreender a realidade através da visão do entrevistado, ou seja, colocar-se no papel do outro. Essa é uma forma de aproximar a vida e o que vai ser investigado. Baseado nisso, destaca-se que a pesquisa de cunho qualitativo busca compreender questões humanas por meio da dimensão subjetiva dos envolvidos na investigação(7).

Com essas dimensões teóricas expostas, inaugura-se o segundo pilar reflexivo deste ensaio, que diz respeito aos diálogos conceituais que versam sobre a entrevista como técnica de produção de dados para pesquisas qualitativas.

 

SEGUNDO PILAR CONCEITUAL: FORMULAÇÕESTEÓRICAS SOBRE AS TÉCNICAS DE ENTREVISTAS

No campo da enfermagem, as pesquisas de campo de cunho qualitativo são de extrema relevância para compreender as especificidades dos serviços de saúde, das características do cuidado prestado e das singularidades profissionais sobre determinadas temáticas. Para exploração dos conteúdos, pesquisadores qualitativos optam pela utilização de entrevistas como técnica de produção de dados para os seus estudos.

A entrevista é uma técnica de produção de dados muito utilizada em pesquisas qualitativas, pois permite um aprofundamento na obtenção de informações, visto que é realizada a partir de uma convers(ação) com o sujeito, permitindo uma flexibilidade na condução da coleta de dados. No entanto, cabe destacar que o investigador deve ter habilidade para criar com o sujeito investigado uma zona de conforto, além de ter conhecimento dos objetivos da pesquisa e ter competência para expor com clareza os questionamentos(8).

A entrevista como técnica de produção de dados para as pesquisas é a mais utilizada no processo de trabalho qualitativo(9-10). E, dentre as técnicas de interrogação utilizadas na elaboração de instrumento de coleta de dados, é a que apresenta maior flexibilidade, podendo assumir as mais diversas formas(11).

A entrevista constitui-se como uma interação entre no mínimo duas pessoas(12). A entrevista é realizada por iniciativa de um entrevistador e destinada a construir informações pertinentes a determinado objeto de investigação(10). Essa técnica de produção de dados pode apresentar desafios em função da interação humana entre entrevistador e respondente, pois o entrevistador tem que fazer perguntas, ouvir as respostas e captar dados(13).

Dentre os fatores que influenciam a produção dos dados para estudos qualitativos a partir da técnica de entrevista, foi possível destacar nas experiências com gestores de enfermagem: quantidade de entrevistadores. Em entrevistas cujos dados serão produzidos a partir de dispositivos de áudio o ideal é que seja realizada apenas com um ou no máximo dois entrevistadores. Isso porque o entrevistado se sente mais confortável para responder aos questionamentos e apresenta seu foco atencional em um único elemento.

Outra questão a ser considerada na produção dos dados qualitativos, levando em consideração os roteiros de entrevistas, diz respeito ao ambiente do cuidado. É recomendável que a entrevista seja realizada em um local calmo, preferencialmente com ausência de ruídos e interferência de elementos externos durante a coleta. Isso permite a concatenação de ideias por parte do entrevistado e consequentemente a obtenção de dados qualitativos completos para pesquisa.

É preciso considerar ainda a extensão da entrevista a ser aplicado ao entrevistado. Um instrumento de produção de dados com muitas perguntas demanda tempo do entrevistado para respondê-las, e isso deve ser considerado no ato do convite e da aplicação dos termos de consentimento livre e esclarecidos. O recomendável para roteiros de entrevistas extensas é que a produção dos dados seja realizada em mais de um encontro.

Baseado nessas breves reflexões, quatro são os desafios relacionados a produção de dados para o método qualitativo, considerando as entrevistas como recursos técnicos: 1) Cenários complexos e diversos da pesquisa; 2) Definição dos participantes implicada aos objetos de estudo; 3) Estratégias de explicação, compreensão e análise da realidade empírica; e 4) Ordenação, descrição, explicação, compreensão e análise da realidade empírica(14).

Dentre as reflexões que podem ser tecidas e que facilitam a produção dos dados qualitativos a partir do recurso da entrevista, estão: estabelecer vínculos com os participantes explicitando a relevância do estudo e suas contribuições para o serviço de saúde e para enfermagem. A comunicação clara das investigações qualitativas favorece a recepção, aceitação e realização das entrevistas. A linguagem acessível por parte dos entrevistadores aos participantes, minimiza resistências para responder os questionamentos contidos no roteiro de entrevista.

Nesta perspectiva, a produção de dados qualitativos favoreceu a explicação do projeto de investigação científica, com enfoque para extensão do roteiro de entrevista, delimitação do local e horário acessível para o entrevistado, preferencialmente em contra turno das atividades laborais. Caso seja usado algum recurso de imagem e som, é importante antes de iniciar aplicação do roteiro de entrevistas, tornar os equipamentos comuns ao momento da entrevista para evitar assim a intimidação do entrevistado.

A partir das formulações postas é fundamental nas técnicas de entrevistas para pesquisas qualitativas o planejamento e a organização para entrar no campo de pesquisa. Isso porque o entrevistador deve estar atento a elementos intervenientes capazes de operar anulando ou potencializando a produção dos dados. Em síntese, os principais fatores são: relação entrevistador-entrevistado, linguagem clara na transmissão de informações sobre o projeto de investigação, anonimato do participante na investigação, ambiente para realização da entrevista, extensão do instrumento de coleta de dados, tempo disponível para responder ao roteiro de entrevista, uso de dispositivos acessórios tais como, gravador, câmera, diário de campo para anotações, entre outros.

Há vários tipos de entrevista, de modo que a escolha de uma técnica dependerá em grande parte dos objetivos da pesquisa(13). Isso porquea entrevista é caracterizada por sua forma de organização e utilidade para os estudos a que se destina(10). Nas modalidades de entrevista, observa-se que cada uma delas exige habilidade, cuidado e postura do entrevistador durante sua execução(9).

Nas entrevistas, quando se desenvolve a relação fixa de perguntas, tem-se a entrevista estruturada(11). Esse tipo de entrevista traz como vantagens sua rapidez, preparação menos exaustiva do pesquisador, baixo custo, e a possibilidade de análise estatística dos dados, já que as respostas obtidas são padronizadas(9).

A entrevista semiestruturada combina um roteiro com questões previamente formuladas e outras abertas, permitindo ao entrevistador um controle maior sobre o que pretende saber no campo investigativo e, ao mesmo tempo, dar espaço a uma reflexão livre e espontânea do entrevistado sobre os tópicos assinalados(10).

Essa modalidade de entrevista obedece a um roteiro que é apropriado fisicamente e utilizado pelo pesquisador. Por ter um apoio claro na sequência das questões, a entrevista semiestruturada facilita a abordagem e assegura aos investigadores menos experientes, que seus pressupostos serão cobertos na conversa(15).

Outro método de entrevista é a entrevista aberta, que consiste numa interlocução livre, balizada pelos parâmetros do objeto de estudo. O pesquisador apresenta brevemente o objetivo e o sentido da conversa e seu interlocutor discorre à vontade sobre o tema(10). Nessa situação, o pesquisador deverá ser bastante habilidoso ao registrar as respostas. Deverá ter a preocupação de registrar exatamente o que foi dito(11).

Baseado nessas acepções, considera-se que a entrevista é uma técnica amplamente utilizada nas pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem. Quando se pensa na produção de dados qualitativos, há que se considerar a experiência científica do entrevistador. O manejo com os termos e a sensibilidade para captar palavras de ordem durante as entrevistas é extremamente desafiador para iniciantes em pesquisa. Nesta corrente, recomenda-se que haja instrumentalizações e simulações de entrevistas em encontros de metodologia como forma de preparar a entrada dos entrevistadores no campo de pesquisa.

Quanto às limitações das formulações reflexivas postas, destaca-se que a sua generalização não é possível. As reflexões que foram firmadas são desafiadoras e se imbricam na pesquisa qualitativa, principalmente no que diz respeito à disciplina enfermagem. Este momento da reflexão convida a rever a questão posta neste ensaio para retornar novamente e tecer considerações que envolvam associação de métodos nas pesquisas de enfermagem e produções de dados para o método qualitativo que contemplem outras modalidades técnicas, a saber: entrevistas com grupos sociais específicos, utilização diário de campo, questionários, oficinas, cafés sociopoéticos, jogos dramáticos, entre outras.

 

CONCLUSÕES

Com a certeza do inacabado, as formulações sobre as pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem retratam uma comunicação científica produzida por pesquisadores preocupados com elementos da subjetividade que são encontradas nas multivariadas cenas de cuidado. Subjetivismos decodificados com auxílio do método qualitativo e que, paulatinamente, vem sendo objetivado em associação com métodos da esfera quantitativa em um movimento científico de complementaridade.

Além disso, as reflexões convidam a pensar nas entrevistas como técnica de pesquisa amplamente utilizada nas pesquisas de enfermagem. As técnicas de entrevistas estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas foram analisados de acordo com fatores que interferem na produção de dados qualitativos durante a entrada do pesquisador no campo.

Dentre os fatores elencados, destacam-se experiência do investigador com a produção de dados nas pesquisas sociais, comunicação completa e clara com o entrevistado, ambiente de produção de dados tranquilo, tempo do entrevistado para responder o instrumento de coleta de dados, extensão do roteiro de entrevista e uso de instrumentos acessórios de voz e imagem para produção de dados.

Como forma de superar os problemas epistemológicos na utilização de pesquisas qualitativas no domínio da enfermagem, os enfermeiros vêm pensando e aplicando inovadoras estratégias que passam pela qualidade na produção dos dados em campo. Sinteticamente, observa-se: pesquisas participativas, sociopoéticas, jogos dramáticos, diários de campo, rodas de conversa e outras técnicas que vêm logrando com determinações descritivas sobre os objetos de estudo que tocam o cuidado.

Novamente reconhecendo o caráter opinativo deste ensaio, acredita-se que são fornecidas pistas conceituais elementares sobre o método qualitativo e fatores que podem interferir na produção de dados qualitativos, sobretudo para os iniciantes na pesquisa científica. Com base nisso, o que emerge como propostas são: novas investigações sobre o fenômeno “pesquisa qualitativa na enfermagem” entrelaçada a outras abordagens metodológicas com o objetivo de ampliar ou refutar estes achados.

Assim, espera-se que este ensaio reflexivo seja capaz de suscitar o interesse sobre a prática de pesquisar objetos do cuidado em saúde, considerando o método qualitativo e as técnicas de entrevistas estruturadas, semiestruturada e não estruturada nos multivariados serviços que a enfermagem está presente.

 

REFERÊNCIAS

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