ISSN-Online: 2236-6814

https://doi.org/10.25060/residpediatr



Relato de Caso - Ano 2022 - Volume 12 - Número 3

Perfil clínico e radiológico de crianças internadas com pneumonias complicadas

Clinical and imaging profiles of children hospitalized for complicated pneumonia

RESUMO

A maioria das crianças tem de 4 a 6 infecções respiratórias agudas (IRA) por ano. Dessas, apenas 2-3% evoluem para pneumonia. A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é uma das infecções do trato respiratório inferior. PAC em crianças continua a ser um problema de saúde pública global em virtude de sua alta morbimortalidade, sendo a doença que mais mata crianças entre 0 e 5 anos de idade no mundo. A PAC complicada é definida como permanência da febre ou instabilidade clínica após 48-72 h da admissão por PAC. O objetivo deste trabalho é descrever as PACs complicadas, internadas em um hospital pediátrico, entre abril de 2006 e abril de 2018.Trata-se de estudo retrospectivo, observacional e descritivo, com crianças e adolescentes de 0 a 13 anos, internados com PAC complicada nas enfermarias de um hospital pediátrico, no período de abril de 2006 a abril de 2018. Foram levantados dados dos pacientes e preenchido formulário de coleta de dados. Serão estudadas as seguintes variáveis: idade, sexo, tipo de complicação pulmonar/extrapulmonar, estado vacinal (vacina antipneumocócica), tempo de tratamento, frequentadores ou não de creche. Foi feita análise descritiva das variáveis categóricas sob forma de frequência, e das numéricas sob forma de percentual, média e mediana. Concluiu-se com este trabalho que o perfil clínico e radiológico das pneumonias em determinado hospital pediátrico é semelhante ao encontrado na literatura mundial atualmente.

Palavras-chave: Pneumonia, Derrame Pleural, Abscesso Pulmonar.

ABSTRACT

Most children have 4 to 6 acute respiratory infections (IRA) per year. Of these, only 2-3% progress to pneumonia. Community-acquired pneumonia (PAC) is one of the respiratory tract infections. PAC in children remains a global public health problem due to its high morbidity and mortality, being the disease that most kills children between 0 and 5 years of age in the world. Complicated PAC is defined as fever permanence or clinical instability after 48-72 h of PAC admission. The objective of this work is to describe complicated PACs, hospitalized at a pediatric hospital, between April 2006 and April 2018. This is a retrospective, observational and descriptive study with children and adolescents aged 0 to 13 years, hospitalized with complicated PAC in a pediatric hospital, from April 2006 to April 2018. Patients data were collected and a data collection form was completed. The following variables will be studied: age, gender, type of pulmonary/extrapulmonary complication, vaccination status (pneumococcal vaccine), treatment time, daycare regulars or not. Descriptive analysis of categorical variables in frequency form and numerical variables in the form of percentage, mean and median were performed. It was concluded with this study that the clinical and radiological profile of pneumonia in one pediatric hospital is similar to that found in the world literature today.

Keywords: pneumonia, Pleural Effusion, Lung Abscess.


INTRODUÇÃO

As infecções respiratórias representam uma das cinco principais causas de óbito em crianças menores de cinco anos de idade nos países em desenvolvimento, sendo responsáveis por cerca de 3 milhões de mortes/ano. Porém, das infecções respiratórias, apenas 2-3% evoluem para pneumonia1. A incidência anual é de 150,7 milhões de casos novos de PAC (pneumonia adquirida na comunidade), dos quais 11 a 20 milhões (de 7 a 13%) necessitam de internação hospitalar devido à gravidade2.

A PAC em crianças continua a ser um problema de saúde pública global em virtude de sua alta morbimortalidade, sendo a doença que mais mata crianças entre 0 e 5 anos de idade no mundo3.

Se a criança permanece com febre ou clinicamente instável após 48-72h da admissão por PAC, possivelmente trata-se de um quadro de PAC complicada4.


MÉTODOS

Descrever o perfil clínico dos pacientes com PAC complicadas com idades de 0 a 13 anos, internadas em determinado hospital, entre abril de 2006 e abril de 2018. Estudo observacional, descritivo e retrospectivo. Foram levantados dados dos pacientes com PAC complicadas internados em um hospital pediátrico, no período de abril de 2006 até abril de 2018.


RESULTADOS

Inicialmente selecionou-se 433 casos que foram internados em um hospital pediátrico no período de abril de 2006 até abril de 2018, sendo as PAC complicadas correspondentes a um total de 118 casos.

As complicações pulmonares encontradas foram: atelectasias, abscesso, derrame pleural, pneumatocele. As complicações extrapulmonares tiveram uma frequência de 37 casos (31,3%), incluindo sepse, síndrome torácica aguda, rebaixamento do nível de consciência, queimadura facial por máscara fullface, convulsão e diarreia.

Foi observado que 20 crianças que desenvolveram PAC complicadas frequentavam creches no momento do diagnóstico (24,6%), considerando-se as crianças com idade inferior a 4 anos.

Dos casos avaliados, 29 (24,5%) apresentavam comorbidades com diagnóstico prévio a PAC.

A vacinação estava atualizada em 37 (63,8%) crianças e adolescentes após o ano de 2010, época em que a vacinação antipneumocócica foi introduzida no calendário vacinal do Ministério da Saúde.

As principais manifestações clínicas presentes à admissão foram: tosse em 48,3%, febre em 46,6% e dispneia em 38,9%.

Apesar da evolução complicada, inicialmente 28 crianças (23%) se apresentaram em bom estado geral. A taquipneia estava presente em 86 pacientes (72,8%) no momento da admissão hospitalar. Em relação a ausculta pulmonar, o mais prevalente foi a redução do murmúrio vesicular, presente em 74 crianças, correspondendo a 62,7% dos casos. Também foram encontrados estertores em 39 (33%), sibilos em 23(19,4%) e mais raramente, sopro tubário, presente em 2 (1,7%) pacientes.

Foi encontrado no estudo um valor satisfatório de coleta de hemoculturas, presentes em 114 (96,6%) dos casos. Destes, apenas 14 (12,2%) apresentaram crescimento bacteriano.


DISCUSSÃO

O presente trabalho evidenciou que em determinado hospital pediátrico, a maioria dos pacientes que apresentou PAC complicadas encontra-se na faixa etária menor que cinco anos de idade. A Organização Mundial da Saúde estimou, para o ano de 2013, que aproximadamente 3,257 milhões de crianças com idades inferiores a 5 anos morreram por doenças infecciosas em todo o mundo, sendo que dessas, 14,9% tiveram como principal causa as PACs5.

No presente estudo não se obteve a cobertura preconizada de vacinação para redução no número de casos, já que apenas 63,8% das crianças internadas em determinado hospital pediátrico, após 2010, com PAC complicada, estavam com a vacinação atualizada. O Ministério da Saúde preconiza como 95% a taxa ideal de cobertura vacinal capaz de dar eficiência à vacina pneumocócica 10‐valente na redução de casos de PAC e outras doenças pneumocócicas invasivas2.

Entre as hemoculturas positivas neste hospital pediátrico, 50% foram identificados pneumococos, sendo os outros 50% divididos em igual frequência entre Staphylococcus aureus, coagulase negativo, Streptococcus hominis e Haemophylus influenzae. Na literatura relata-se que a positividade das amostras de hemoculturas é inferior a 10%, valor muito próximo ao encontrado no trabalho (12,2% de hemoculturas positivas)6.

Em relação às PAC complicadas, a complicação mais frequente relatada na literatura é o derrame pleural7.

Quase 60% dos nossos pacientes desenvolveram empiema. Segundo Pabary et al. (ANO)8, 0,7% das crianças hospitalizadas com PAC desenvolvem empiema.


CONCLUSÃO

O seguinte trabalho evidenciou o perfil das PAC complicadas neste hospital pediátrico, evidenciando que as manifestações clínicas, radiológicas e principais agentes, são semelhantes aos encontrados na literatura mundial, incluindo as frequências encontradas.


REFERÊNCIAS

1. Diretrizes brasileiras em PAC adquirida na comunidade em pediatria - 2007. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007;33:s31–50.

2. Farha T, Thomson AH. The burden of PAC in children in the developed world. Paediatric Respiratory Reviews. 1° de junho de 2005;6(2):76–82.

3. Mathur S, Fuchs A, Bielicki J, Van DenAnker J, Sharland M. Antibiotic use for community-acquired PAC in neonates and children: WHO evidence review. Paediatric Int Child Health. novembro de 2018;38(sup1):S66–75.

4. Harris M, Clark J, Coote N, Fletcher P, Harnden A, McKean M, et al. British Thoracic Society guidelines for the management of community acquired pneumonia in children: update 2011. Thorax. 1o de outubro de 2011;66(Suppl 2):ii1–23.

5. Liu L, Oza S, Hogan D, Perin J, Rudan I, Lawn JE, et al. Global, regional, and national causes of child mortality in 2000–13, with projections to inform post-2015 priorities: an updated systematic analysis. The Lancet. 31 de janeiro de 2015;385(9966):430–40

6. Sant’Anna CC. Pneumonias agudas na infância. Revista médica oficial do hospital universitário da UFJF, 2004. VOL 30 (2-3).

7. Diretrizes brasileiras em PAC adquirida na comunidade em pediatria - 2007. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007;33:s31–50.

8. Pabary R, Balfour-Lynn IM. Complicated pneumonia in children. Breathe. 1o de março de 2013;9(3):210–22.










UFRJ, Pediatria - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil

Endereço para correspondência:

Laís de Paiva Gabriel
UFRJ
Av. Pedro Calmon, n° 550, Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - RJ. Brasil. CEP: 21941-901
E-mail: laispaivagab@yahoo.com.br

Data de Submissão: 24/07/2020
Data de Aprovação: 14/10/2020