Ebook - Do mito grego à psicanálise: ressonânciasAtena Editora

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1. Psicanálise. I. Costa, Paulo José da (Organizador). II. Título. CDD 150.195

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capa do ebook Do mito grego à psicanálise: ressonâncias

Do mito grego à psicanálise: ressonâncias

Publicado em 05 de janeiro de 2023.
O legado da civilização grega para a cultura ocidental é inegável, assim
como a presença da mitologia helênica na construção do arcabouço teórico da
psicanálise. De modo geral, herdamos as suas contribuições por meio do que
permaneceu intacto, através de registros históricos, arqueológicos, artísticos,
linguísticos, etc., que sobreviveu ao tempo e foi absorvido pela posteridade, mas
também pelos bens imateriais inerentes. Entretanto, não podemos supor que
o patrimônio helênico herdado se mantenha incólume na nossa cultura, mas
sobrevive porque é amalgamado ao devir, é readaptado e ressignificado no
percurso temporal, geográfico, histórico, social, das ações humanas de cada
tempo e lugar.
Tal processo, ao contrário de diminuir a importância desse legado, embora
nos possa parecer diluí-lo ou até fazê-lo sair de cena, o mantém vivo porque
esse movimento é essencial a sua preservação de diferentes maneiras. Sem
isso, o que ele contém de mais significativo referente ao humano se engessaria
e assim perderia a sua força e o seu valor, levando-o ao desaparecimento,
pois teria perdido o que o faz ser fonte de inspiração, de reflexão, que é o seu
dinamismo. Nesta perspectiva, a psicanálise se apropriou de elementos dessa
herança, por reconhecer a sua dinamicidade e capacidade de expressão de
aspectos profundamente humanos, em constante movimento. Nesse sentido, o
modo como Freud se aproximou particularmente dos mitos gregos na construção
do corpus psicanalítico, resgata a atualidade daquilo que já estava presente
na Antiguidade, transformando-o, através de uma abordagem original que lhe
permitiu criar um novo campo do conhecimento.
Assim sendo, podemos pensar que a contribuição da civilização helênica
para a cultura ocidental, e particularmente para a psicanálise que é o nosso foco
de interesse em nossas pesquisas e estudos, se manifesta como uma espécie
de eco que pode ser tomado como repetição, mas também como portador de
algo para o qual se chama a atenção, que reverbera em múltiplas situações
e condições, pelas quais evidencia, transmite, distingue certa coisa que até
então talvez estivesse velada ou pouco percebida, que repercute pelo efeito
que produz. Portanto, por ressonâncias explícitas ou subjacentes, manifestas
ou latentes. É considerando tais ressonâncias e suas inúmeras possibilidades
que vimos nos debruçando sobre a interface entre mitologia grega e psicanálise,
inseridos na Linha de pesquisa “Psicanálise e Civilização”, do Programa de Pósgraduação
em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá.
Com foco nessa interface, professores, mestrandos e doutorandos do
APRESENTAÇÃO
referido Programa de Pós-graduação desenvolvem estudos e pesquisas, além
de consolidar a disciplina “A mitologia grega e a dimensão trágica do psiquismo:
reflexões psicanalíticas”, ministrada regularmente. É desse corpus de produções
que emergem as nossas publicações, algumas das quais apresentamos no
presente livro. Também contamos com a parceria e contribuições de profissionais
interessados nessa temática, vinculados às seguintes instituições: Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF),
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Centro
Universitário UDF, Centro Universitário Metropolitano de Maringá (Unifamma),
Centro Universitário de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná (UniFatecie),
Escola de Psicoterapia Psicanalítica de Maringá (EPPM) e Prefeitura Municipal
de Maringá,
No presente livro, as interfaces entre mitologia grega e psicanálise são
abordadas por diferentes perspectivas e temáticas, que expressam a riqueza de
possibilidades que emergem do encontro desses dois campos. Assim, no primeiro
texto, Dor mental e engrenagem suicida: um jeito de existir, é discutido um modo
de funcionamento psíquico que cria proteções para evitar o conhecimento de
aspectos fundamentais inerentes à condição humana, visando blindar a mente
de pensar as verdades penosas, segundo a concepção bioniana. No segundo,
por sua vez, denominado A clínica psicanalítica e a ética trágica na pósmodernidade,
apresenta e argumenta acerca da relação entre os fundamentos
psicanalíticos e o pensamento filosófico trágico, remetendo a uma ética trágica
norteando o trabalho do psicanalista e auxiliando a compreensão de qual é o
lugar ocupado pela psicanálise no mundo contemporâneo.
Quanto ao terceiro texto, intitulado Deméter e Perséfone: reflexões acerca
das dificuldades de separação subjetiva entre mãe e filha, parte de vivências
oriundas da clínica para refletir sobre a modalidade relacional em que não ocorre a
separação e a diferenciação necessárias, no processo de subjetivação, envolvendo
a dupla mãe-filha. Na sequência, em Narciso e o espelho: análise de uma narrativa
mítica, o exame recai sobre o mito de Narciso a partir de sua estruturação narrativa,
tendo por base tanto elementos textuais quanto psicanalíticos. Em Jasão: o herói
adormecido, além de apresentar este mito, investiga as características do seu
processo heroico em sua relação com Medeia.
No texto O destino de John Connor na trilogia “O exterminador do futuro”:
esboços psicanalíticos e trágicos, a partir de elementos psicanalíticos e trágicos,
APRESENTAÇÃO
são propostas algumas possibilidades para se pensar a presença mítica na
contemporaneidade, através do exame de aspectos presentes no personagem
principal da referida obra cinematográfica. Com relação ao sétimo texto, Do rito
fúnebre ao mito das origens: questões do sujeito a partir de Antígona e Incêndios,
a partir da personagem sofocleana e de uma peça teatral, ambas indicadas no
título, traz reflexões com o intuito de pensar acerca da noção de sujeito desde o
seu enlaçamento com a cultura e sobre o registro do mito, enquanto possibilidade
para se pensar as origens e a morte.
Quanto ao próximo texto, Anacronia no enigma edípico: paradigma
do tempo em psicanálise, busca defender a existência de uma anacronia no
processo de formulação do enigma edípico, sendo necessário, para tanto,
tratar sobre a tese do tempo tal como se apresenta na tragédia de Sófocles
sobre o rei Édipo e a dinâmica da atemporalidade inconsciente, do ponto de
vista psicanalítico. Sequencialmente, em A disjunção entre a mulher e a mãe
em Medeia, são levantados questionamentos a respeito do destaque dado por
Eurípides à personagem e seu ato filicida, a partir do que se constroem análises
evidenciando as distinções entre a mãe e a mulher, trazendo para o campo
psicanalítico como pauta de importante discussão.
Intitulado O avesso de Procusto: algumas observações acerca da
inquietante função do analista, o décimo texto apresenta uma reflexão sobre a
alteridade e suas implicações metapsicológicas, argumentando pela perspectiva
da função analítica. Em seguida, desenvolvendo conexões entre as noções de
frenesi báquico e de loucura privada, enquanto possibilidades de se pensar a
clínica psicanalítica na atualidade, temos O frenesi báquico e a loucura privada:
articulações entre a psicanálise e a tragédia As Bacantes. Finalizando esse
conjunto de estudos, consta Medeia e o filicídio: comoção e horror, no qual a
proposta é examinar as possíveis reações que as pessoas têm perante a situação
de assassínio dos filhos pela própria mãe, analisando a partir dos conceitos de
recalque e de formação reativa.
Esperamos que a leitura do presente livro possa contribuir para a
reflexão e para a promoção de debates, favorecendo o surgimento de novos
entendimentos envolvendo as questões levantadas e discutidas aqui. E propiciar
deleite (porque não?), tendo em vista a arte envolvida nos mitos gregos.

Prof. Dr. Paulo José da Costa
Organizador
 

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