TERRITÓRIO, PODERES TUTELARES E AGÊNCIAS INDÍGENAS: ANÁLISES PRELIMINARES SOBRE TRÂNSITOS, TROCAS E R-EXISTÊNCIAS NA FRONTEIRA BRASIL-GUIANA FRANCESA (1930-1945)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18223/hiscult.v9i1.3130

Resumo

O artigo analisa as dinâmicas indígenas na região de fronteira entre Brasil e Guiana Francesa, no contexto da Era Vargas (1930-1945). Visa entender suas configurações territoriais e agenciamentos em face às políticas estatais de ocupação dos sertões fronteiriços, no norte amazônico. Utilizando as fontes do Serviço de Proteção aos Índios, dimensiona as vivências e estratégias adotadas pelos povos indígenas da região para reinterpretar, e ressignificar, as ações tutelares que visavam disciplinarizar e dominar seus corpos, mentes e culturas. Isso engendrou outras formas de existência grupal entre os indígenas, que atendiam as pressões da sociedade envolvente sem ocasionar, no entanto, a perda de suas complexidades sociopolíticas e cosmológicas. Logo, a pesquisa revela, ainda de forma preliminar, o dinamismo desse quadro de relações interétnicas na Guiana indígena.

Palavras-chave: Amazônia; fronteiras; territórios; relações interétnicas; r-existências indígenas.

Biografia do Autor

Benedito Emílio da Silva Ribeiro, Programa de Pós-graduação em Diversidade Sociocultural, Museu Paraense Emílio Goeldi

Mestrando em Diversidade Sociocultural pelo Pós-graduação em Diversidade Sociocultural do Museu Paraense Emílio Goeldi - Belém, Pará, Brasil. Graduado em História pela Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas Interculturais Pará-Maranhão e do Grupo de Pesquisa Diversidade e Interculturalidade na Amazônia: pesquisas colaborativas e pluridiciplinares. Possui experiências nas áreas de História e Antropologia, com interesses de pesquisa voltados à temática indígena, e afro-indígena, e aos debates decoloniais e transdisciplinares.

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Publicado

2020-07-06