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Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo: manual da terapia cognitivo-comportamental para pacientes e terapeutas

LIVRO

Denis Roberto Zamignani

Curso de Pós-graduação em Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo

Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo: manual da terapia cognitivo-comportamental para pacientes e terapeutas

Aristides Volpato Cordioli. Porto Alegre: Artmed, 2004, 166 páginas. ISBN 85-363-0284-4.

Nos últimos anos, temos acompanhado um crescente interesse da mídia e da opinião pública sobre questões relacionadas ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). O aumento desse interesse deve-se, em parte, ao esforço incansável de associações de portadores e à coragem demonstrada por pessoas famosas, que tornaram pública sua história de sofrimento em função do problema. Outra parte importante responsável por essa maior divulgação é o empenho de pesquisadores da área em tornar acessível ao público leigo o avanço do conhecimento científico, tanto no que se refere à investigação médica, quanto às terapias comportamental e cognitiva.

O presente livro é um excelente exemplo desse último grupo. O autor apresenta de forma precisa, detalhada e simples informações básicas sobre o TOC, suas prováveis origens e, principalmente, as estratégias comportamentais e cognitivas destinadas ao manejo dos problemas relacionados a esse diagnóstico.

A obra é composta por doze capítulos, cada um deles representando uma seção de um programa cognitivo-comportamental.

As seções 1 a 5 seguem as etapas características desse tipo de programa, incluindo a avaliação inicial e informações sobre o transtorno (seções 1 e 2), explicações sobre a técnica de exposição com prevenção de respostas e sua aplicação para cada tipo de comportamento obsessivo-compulsivo (seções 3 e 4) e apresentação das estratégias cognitivas (seção 5).

É nas seções 6 a 9 que o livro apresenta seu maior mérito: a descrição, de forma didática e minuciosa, das especificidades do tratamento para cada um dos principais grupos de sintomas obsessivo-compulsivos (obsessões de contaminação - 6; hiper-responsabilidade - 7; obsessões de conteúdo impróprio - 8; perfeccionismo - 9). Essas quatro ''seções'' por si só já justificariam a edição do livro, pois até então não existia no Brasil uma obra que trouxesse essa contribuição.

A seção 10 discute o impacto do TOC na família e seu papel na manutenção do problema, bem como na sua superação, enquanto as seções 11 a 14 (cap. 11) tratam da continuidade do tratamento.

A seção 15, por fim, apresenta aspectos referentes à alta e à prevenção de recaídas.

O livro traz ainda algumas informações básicas sobre o tratamento medicamentoso e algumas escalas de avaliação de sintomas e planilhas para auto-monitoramento.

Consideradas todas as qualidades do livro, vale apontar uma característica que merece discussão: o autor apresenta a terapia cognitivo-comportamental como ''um tratamento breve, realizado, na maioria das vezes, em 10 a 15 seções''. Mais à frente, afirma que ela ''é de curta duração e está focada nos sintomas''. Esse tipo de apresentação apenas reforça o preconceito generalizado de que terapia comportamental se resume a um conjunto de procedimentos para o alívio de sintomas e que, caso o paciente queira um trabalho mais profundo, deve procurar outras abordagens de psicoterapia. Infelizmente, o autor é acompanhado por grande parte da literatura cognitivo-comportamental na divulgação desse preconceito.

Entretanto, o que no livro é chamado de terapia cognitivo-comportamental corresponde apenas a um conjunto de técnicas (muito eficazes, por sinal) destinadas à solução de um problema específico. Ou seja, são estratégias derivadas da terapia cognitivo-comportamental, mas não a terapia cognitivo-comportamental. Essa postura talvez justifique as recomendações (p. 34) do autor sobre quando procurar esse tipo de terapia (''se os sintomas são bastante graves, ou se você não é disciplinado o suficiente para fazer os exercícios sozinho''). Emprestando uma analogia utilizada por Banaco1 (1999) ''a arte está sendo confundida com o conjunto de procedimentos que utiliza''. Embora isso possa parecer uma questão de mera nomenclatura, ela diz respeito ao papel assumido pelo profissional: de mero técnico que remove sintomas, ou de alguém que pode oferecer suporte terapêutico integral a uma pessoa em sofrimento.

Referência

1. Banaco RA. Técnicas cognitivo-comportamentais e análise funcional. In: Kerbauy RR, Wielenska RC, orgs. Psicologia comportamental e cognitiva: da reflexão teórica à diversidade na aplicação. Santo André: ARBytes; 1999. vol. 4. p. 75-82.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Mar 2004
  • Data do Fascículo
    Mar 2004
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