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Variações no balanço catiônico do solo induzidas pela adubação potássica e efeitos na cultura do alho vernalizado

Variations of cation balance in the soil induced by potassic fertilization and effects on vernalized garlic

Resumos

Avaliaram-se os efeitos das relações (Ca+Mg)/K do solo sobre o desenvolvimento, absorção de nutrientes e produção de bulbos na cultura do alho cv. "Roxo Pérola de Caçador" conduzindo experimento no período de maio a outubro de 1990 em vasos de cimento amianto contendo 50 kg de terra, em casa de vegetação telada. Os tratamentos consistiram de aplicações de doses de potássio visando atingir relações (Ca+Mg)/K no complexo de troca do solo próximas a 170; 50; 35; 20; 12,5; 7,5; 5,0; 3,5 e 2,0. Verificaram-se aumentos na concentração de K, Ca e Mg na solução do solo proporcionais à elevação do teor de K trocável. As concentrações foliares de K e Mn diminuiram proporcionalmente às relações (Ca+Mg)/K do solo, ocorrendo o inverso com as concentrações de Ca e Mg. A absorção dos demais nutrientes não foi influenciada pelos tratamentos. A relação (Ca+Mg)/K influenciou a produção de bulbos e a altura das plantas durante todo o ciclo, sendo que os menores valores desta relação, caracterizados por excesso de K, inibiram mais o desenvolvimento e a produção de bulbos. A porcentagem de K no complexo de troca, seguida da relação K/(Ca+Mg)1/2 e do K trocável do solo foram os índices que melhor correlacionaram com a produção de bulbos.

alho; adubação potássica; nutrição catiônica; equilíbrio Ca:Mg:K


The objective of this study was to evaluate the effects of soil (Ca+Mg)/K ratio on nutrient uptake, development and bulb yield of vernalized garlic (Allium sativum L.) grown in 50 liter pots, under greenhouse conditions. Rates of potassium were applied to an allic dark red latosol (Oxisol) in order to obtain soil (Ca+Mg)/K ratios of approximately to 170; 50; 35; 20; 12.5; 7.5; 3.5 and 2.0. The increase of potassium rates influenced the soil solution, increasing directly the K, Ca and Mg concentrations. The contents of K and Mn in the leaves decreased with the increment of the soil (Ca+Mg)/K ratio, while the opposite occurred with the Ca and Mg content. Other nutrients uptake were not influenced by the treatments. The soil (Ca+Mg)/K ratio influenced bulb yield and plant height at the lowest ratios, and potassium excess decreased plant yield and weight. The best correlation with bulb yield was observed between potassium saturation (%K), followed by K/(Ca+Mg)1/2 ratio and exchangeable potassium in the soil.

garlic; potassic fertilization; cationic nutrition; Ca:Mg:K ratio


VARIAÇÕES NO BALANÇO CATIÔNICO DO SOLO INDUZIDAS PELA ADUBAÇÃO POTÁSSICA E EFEITOS NA CULTURA DO ALHO VERNALIZADO1 1 Trabalho apresentado no XXXIV Congresso Brasileiro de Olericultura, Águas de São Pedro-SP, 7-12 de agosto de 1994.

L.T. BÜLL2,3; R.L. VILLAS BÔAS2; J. NAKAGAWA2

2Depto. de Ciência do Solo-FCA/UNESP, C.P. 237, CEP: 18603-970 - Botucatu, SP.

3Bolsista do CNPq.

RESUMO: Avaliaram-se os efeitos das relações (Ca+Mg)/K do solo sobre o desenvolvimento, absorção de nutrientes e produção de bulbos na cultura do alho cv. "Roxo Pérola de Caçador" conduzindo experimento no período de maio a outubro de 1990 em vasos de cimento amianto contendo 50 kg de terra, em casa de vegetação telada. Os tratamentos consistiram de aplicações de doses de potássio visando atingir relações (Ca+Mg)/K no complexo de troca do solo próximas a 170; 50; 35; 20; 12,5; 7,5; 5,0; 3,5 e 2,0. Verificaram-se aumentos na concentração de K, Ca e Mg na solução do solo proporcionais à elevação do teor de K trocável. As concentrações foliares de K e Mn diminuiram proporcionalmente às relações (Ca+Mg)/K do solo, ocorrendo o inverso com as concentrações de Ca e Mg. A absorção dos demais nutrientes não foi influenciada pelos tratamentos. A relação (Ca+Mg)/K influenciou a produção de bulbos e a altura das plantas durante todo o ciclo, sendo que os menores valores desta relação, caracterizados por excesso de K, inibiram mais o desenvolvimento e a produção de bulbos. A porcentagem de K no complexo de troca, seguida da relação K/(Ca+Mg)1/2 e do K trocável do solo foram os índices que melhor correlacionaram com a produção de bulbos.

Descritores: alho, adubação potássica, nutrição catiônica, equilíbrio Ca:Mg:K

VARIATIONS OF CATION BALANCE IN THE SOIL INDUCED BY POTASSIC FERTILIZATION AND EFFECTS ON VERNALIZED GARLIC

ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the effects of soil (Ca+Mg)/K ratio on nutrient uptake, development and bulb yield of vernalized garlic (Allium sativum L.) grown in 50 liter pots, under greenhouse conditions. Rates of potassium were applied to an allic dark red latosol (Oxisol) in order to obtain soil (Ca+Mg)/K ratios of approximately to 170; 50; 35; 20; 12.5; 7.5; 3.5 and 2.0. The increase of potassium rates influenced the soil solution, increasing directly the K, Ca and Mg concentrations. The contents of K and Mn in the leaves decreased with the increment of the soil (Ca+Mg)/K ratio, while the opposite occurred with the Ca and Mg content. Other nutrients uptake were not influenced by the treatments. The soil (Ca+Mg)/K ratio influenced bulb yield and plant height at the lowest ratios, and potassium excess decreased plant yield and weight. The best correlation with bulb yield was observed between potassium saturation (%K), followed by K/(Ca+Mg)1/2 ratio and exchangeable potassium in the soil.

Key Words: garlic, potassic fertilization, cationic nutrition, Ca:Mg:K ratio

INTRODUÇÃO

A habilidade de uma planta para obter quantidades suficientes de potássio, cálcio, magnésio ou outro nutriente para um bom desenvolvimento pode depender não apenas da concentração e da forma disponível do elemento no meio de crescimento, mas também de outros fatores que afetam a sua absorção. Dentre estes fatores, a pesquisa tem evidenciado a importância de outros cátions presentes no meio de crescimento na absorção de um determinado cátion pela planta.

De acordo com os resultados obtidos por diversos autores citados por Soares et al. (1983a), o efeito estimulante do cálcio sobre a absorção de potássio é observado quando o mesmo está em baixas concentrações. Mas com o aumento gradativo na concentração do cálcio, esse efeito diminui até o momento em que ocorre antagonismo entre esses cátions a níveis mais altos de cálcio e, consequente redução na absorção de potássio pelas plantas.

A influência do magnésio, reduzindo a absorção de cálcio e potássio foi relatada por Key & Kurtz (1960) em plantas de soja e por Büll & Nakagawa (1995) em plantas de alho.

Efeito inibitório do potássio sobre a absorção do magnésio em plântula de milho foi observado por Fonseca & Meurer (1997). Alguns trabalhos (Rahmatullah & Baker, 1981; Stout & Baker, 1981; Rosolem et al., 1984) demonstraram que em determinadas condições a absorção de magnésio pela planta é mais uma função da disponibilidade de potássio no solo do que propriamente da disponibilidade de magnésio. Outros trabalhos indicaram ocorrer redução também na absorção de cálcio, com a elevação do nível de potássio no meio de crescimento. (Soares et al., 1983a,b; Ventura et al., 1987; Alves et al., 1988 e Büll et al., 1993).

A relação entre potássio, cálcio e magnésio, tem sido tomada como um parâmetro para se analisar as respostas das culturas a adubação potássica. Para o algodoeiro, as relações Ca/K (Fuzzato & Ferraz, 1967) e (Ca+Mg)/K (Silva et al., 1984) mostraram-se mais eficientes que teores isolados de K trocável na correlação com a produção. Maiores produções de plântulas de cacaueiro (Morais & Rosand, 1971) foram obtidas com valores de (Ca+Mg)/K entre 16,5 e 24,4; para o tomateiro (Lima et al., 1981) estas relações estiveram entre 10,5 e 26,3 e para soja perene (Büll et al., 1993) entre 20 e 25. De acordo com Castro & Meneghelli (1989), o índice 0,20 para a relação K/(Ca+Mg)1/2 é o limite a partir do qual as adubações potássicas vão apresentando respostas progressivamente menores e, portanto, antieconômicas. Entretanto, para o milho, Raij et al. (1981) não observaram melhoria da correlação pela consideração de cálcio e magnésio ou saturação de potássio no complexo de troca do solo.

Como estudos dessa natureza não são frequentes para as hortaliças, conduziu-se o presente trabalho com o objetivo de estudar os efeitos de variações no balanceamento catiônico do solo provocadas pela adubação potássica, sobre a absorção de nutrientes, desenvolvimento e produção de bulbos na cultura do alho vernalizado.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em casa de vegetação telada do Departamento de Ciência do Solo da Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, Município de Botucatu (SP). Utilizaram-se vasos retangulares de cimento amianto contendo 50 kg de um solo coletado na camada arável (0-20 cm), classificado por Carvalho et al. (1983) como latossolo vermelho-escuro, álico, textura média, com as seguintes características: pH (H2O) 5,1; 18g dm-3 de M.O, 2mg dm-3 de P extraído por resina e 64 mmolc kg-1 de H+Al extraídos por acetato de cálcio 0,5 mol L-1 a pH 7,0 (Raij & Quaggio, 1983); cátions trocáveis, em mmolc kg-1, K:0,3, Ca: 2,1 e Mg: 2,9, extraídos por acetato de amônio 1 mol L-1 a pH 7,0 (Jackson, 1964) na relação solo: solução de 1:10; 69, 3 mmolc kg-1 de CTC, 8% de saturação por bases; areia: 500 g kg-1; silte: 150 g kg-1; argila: 350 g kg-1, umidade equivalente: 0,19 kg kg-1; caolinita: 600 g kg-1 e gibbsita: 60- 100 g kg-1.

O experimento foi instalado em delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram de aplicações de doses de potássio, visando atingir nove relações (Ca+Mg)/K no complexo de troca do solo próximas a 170; 50; 35; 20; 12,5; 7,5; 5,0; 3,5 e 2,0, aplicando-se KCl p.a. nas quantidades respectivas de 0; 2,6; 4,5; 8,6; 14,2; 24,2; 37,3; 53,7 e 94,7 g/vaso. Mantiveram-se constantes a relação Ca:Mg no corretivo em 4:1 e a saturação por bases em 75%, aplicando-se em cada vaso a mistura de 92,8 g de CaCO3 e 19,5 g de MgCO3.

Após a aplicação desses três nutrientes, os solos foram umedecidos a 70% da capacidade máxima de retenção de água e mantidos em incubação por 30 dias, procedendo-se então às adubações de plantio, idênticas para todos os tratamentos.

A adubação fosfatada foi feita na dose de 200 mg kg-1 de P, utilizando-se, por vaso, 36,9 g de superfosfato triplo e 12,3 g de fosfato monoamônico (MAP). A adubação nitrogenada de plantio foi feita na dose de 60 kg ha-1 de N, correspondente a 1,35 g por vaso de N aplicado na forma de MAP; nas adubações nitrogenadas em cobertura, aplicaram-se 2,55 g por vaso (25 kg ha-1 de N) de sulfato de amônio, aos 30 e 50 dias após o plantio (dap), na forma de solução aquosa. A partir de 30 dap, foram feitas aplicações semanais de solução completa de micronutrientes, nas concentrações recomendadas por Waugh & Fitts (1966).

O plantio foi feito em 9 de maio de 1990, plantando-se em cada vaso doze bulbilhos de alho (Allium sativum L.) cultivar Roxo Pérola de Caçador, vernalizados a 4oC por 45 dias, de peso entre dois e três gramas. A disposição dos bulbilhos nos vasos obedeceu a um espaçamento equidistante de 8 cm entre plantas na linha e 15 cm entre as linhas.

Antes do plantio, coletaram-se amostras de terra de cada vaso, determinando-se pH, acidez potencial e bases trocáveis, conforme descrito anteriormente. Nessas amostras determinaram-se, também, os valores de potencial potássio-cálcio-magnésio, utilizando-se a técnica de Ulrich, citado por Fassbender & Laroche, 1968: adicionaram-se 20 ml de água a 30 g de solo e agitou-se em agitador horizontal por 15 minutos. Segundo esse autor, após esse intervalo de tempo considera-se estabelecido o equilíbrio entre o solo e a solução do solo. Em seguida, deixou-se o material em repouso por uma hora e filtrou-se em papel de filtro Whatman nº42. Após as diluições necessárias, determinaram-se as concentrações de potássio, cálcio e magnésio em espectrofotômetro de absorção atômica, cujos valores foram utilizados nos cálculos para a obtenção do potencial de potássio. Foi considerado o potencial de potássio em relação ao de cálcio mais magnésio, sendo expresso em função do logarítmo negativo das atividades iônicas, conforme Fassbender (1972): potencial de potássio = pK - 0,5p (Ca + Mg). Os coeficientes de atividade (f) foram calculados de acordo com a fórmula simplificada de Debye-Hückel, descrita por Beckett (1965).

log f = -0,509Z2 I1/2 ;

onde Z é a valência do íon e I é a força iônica da solução de equilíbrio calculada por:

i = n

I = ½ å mi Z2i ;

i = i

sendo mi a concentração molar do íon, a atividade a é dada pela fórmula:

a = f mi

Para o cálculo da força de íons total da solução do solo, pode-se considerar a força iônica correspondente aos ânions como sendo igual à dos cátions (Fassbender, 1972). Dessa forma, o valor da força iônica utilizado nos cálculos de atividade foi o dobro daquele obtido para os cátions potássio, cálcio e magnésio, evitando assim a necessidade de determinação da concentração de ânions na solução.

Por ocasião da diferenciação (70 dap), coletaram-se duas plantas de cada vaso para diagnose foliar, analisando-se toda a parte aérea, conforme técnica descrita por Bataglia et al. (1983), determinando-se os teores de macro e micronutrientes.

Foi avaliado o desenvolvimento das plantas através da tomada do comprimento da maior folha, aos 23, 62, 97 e 118 dap.

A colheita deu-se em períodos distintos, em função da maturação, iniciando-se em 4/9/90 (116 dap) e estendendo-se até 9/10/90 (151 dap). Após o período de cura realizado à sombra em temperatura ambiente, por 30 dias, procedeu-se à limpeza e à pesagem dos bulbos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise química do solo e absorção de nutrientes: Pelos resultados da análise química de solo após a incubação (TABELA 1) verifica-se que as relações (Ca+Mg)/K, atingidas foram muito próximas daquelas desejadas. Estes dados vêm confirmar a elevada sensibilidade da solução de acetato de amônio para a extração de cátions trocáveis do solo, como base de cálculo para equilíbrio catiônico em solos. Verifica-se também, que a gama de variação nos níveis de potássio atingidos foi bastante expressiva, com teores extremamente baixos até teores excessivos.

Os valores de pH obtidos mostraram-se muito semelhantes, não sofrendo influência das quantidades de sal potássico adicionado, não confirmando as considerações de Raij (1989) para determinações do índice pH em água. Os valores da porcentagem de saturação por bases atingidos, embora não relacionados, apresentaram pequena elevação com as doses de potássio aplicado, variando de 68% a 76% da maior para a menor relação(Ca+Mg)/K.

Os dados referentes à atividade dos cátions na solução do solo (TABELA 2) mostraram que a variação nos valores de atividade de potássio em solução acompanhou a níveis deste elemento na forma trocável (r = 0,99); observou-se também que, ao contrário do ocorrido com os teores de Ca e Mg trocáveis (TABELA 1), os níveis destes cátions em solução foram muito influenciados pela variação no teor de potássio trocável, ocorrendo aumentos na concentração de Ca (r = 0,95) e Mg (r = 0,95) em solução diretamente proporcionais à elevação do teor de potássio aplicado. Estas variações podem ser atribuídas ao deslocamento desses cátions pelo potássio que, embora com menor energia de adsorção como evidenciado pela série liotrófica, com a elevação na quantidade aplicada passa a competir com os cátions divalentes pelos pontos de troca, sendo o fator concentração preponderante. Entretanto as relações entre as atividades de Ca e Mg em solução, a exemplo do ocorrido para a forma trocável desses cátions, não sofreram alterações expressivas em função da aplicação de potássio.

Observa-se ainda pela TABELA 2, que as relações entre as atividades de Ca+Mg e K em solução também variaram em função do nível de potássio aplicado (r = 0,99). Entretanto, estas relações apresentaram valores mais de 10 vezes inferiores àqueles observados na forma trocável (TABELA 1), evidenciando a tendência do potássio em se manter mais em solução do que o cálcio e o magnésio. Os valores do potencial de potássio (pK-0,5p (Ca+Mg)), parâmetro que caracteriza a relação entre o potássio e cálcio + magnésio em solução, mostram variações bastante evidentes com a elevação do nível de potássio trocável (r = -0,99). De acordo com Fassbender & Laroche (1968), valores maiores que 2,6 são associados com absorção excessiva de potássio ou deficiência de cálcio e/ou magnésio; dessa forma, as relações (Ca+Mg)/K entre 45,5 e 11,9 apresentam, de acordo com aquele autor, equilíbrio adequado entre potássio e cálcio + magnésio em solução, enquanto a relação 207,3 é deficiente em potássio e as relações menores que 7,5, inclusive, apresentam possibilidade de antagonismo entre potássio e cálcio e/ou magnésio.

Na Figura 1 estão apresentadas as variações de concentração de potássio, cálcio e magnésio na parte aérea das plantas, pela qual observa-se que houve influência dos tratamentos na absorção destes nutrientes pelo alho.

Figura 1
- Concentração de Ca, Mg e K na parte aérea de plantas de alho em função de variações no teor de K trocável e na relação (Ca+Mg)/K trocáveis no solo. Médias com mesma letra, em cada curva, não diferem estatísticamente entre si (Tukey, 0,05%).

A concentração de potássio (r = 0,99) na parte aérea aumentou proporcionalmente às quantidades de potássio aplicado, ocorrendo o inverso com as concentrações de cálcio (r = -0,93) e magnésio (r = -0,98). Estes resultados estão de acordo com Soares et al. (1983a,b), Rosolem et al. (1984), Ventura et al. (1987), Alves et al. (1988), e Bull et al. (1993), evidenciando um efeito antagônico do potássio sobre a absorção dos cátions divalentes, o que pode ser confirmado pelos resultados de análise de regressão linear, com coeficientes de correlação significativos entre os teores foliares de K e Ca (r = -0,93) e Mg (r = -0,98).

A correlação entre a relação (Ca+Mg)/K no complexo de troca e os cátions absorvidos também apresentou valores altamente significativos, com valores de r = -0,99, r = 0,92 e r = 0,98 para K, Ca e Mg, respectivamente.

Comparando-se os dados da TABELA 2 com a figura 1 verifica-se que a absorção de potássio aumentou com os valores de atividade deste elemento em solução (r = 0,98), ocorrendo o inverso com a absorção de cálcio (r = -0,91) e magnésio (r = -0,97). Entretanto, a despeito dos aumentos nas atividades de cálcio e magnésio em solução com a elevação do nível de potássio aplicado, a absorção destes cátions pela planta mostrou comportamento inverso com relação a estes parâmetros, com valores de r = -0,88 e r = -0,95, para Ca e Mg respectivamente, demonstrando que a absorção desses cátions foi governada mais pela atividade de potássio em solução do que propriamente de cálcio e magnésio, corroborando as observações de Rahmatullah & Baker (1981); Stout & Baker (1984) e Rosolem et al. (1984). Este fato vem comprovar também que, em termos de absorção de bases trocáveis pela planta, o equilíbrio de cátions em solução pode ser mais importante que a própria concentração do nutriente em solução.

A correlação simples entre os valores de potencial de potássio e as concentrações dos cátions na planta confirmou as observações do parágrafo anterior, com valores de coeficientes de correlação muito semelhantes, sendo r = -0,98; r = 0,92 e r = 0,97, para K, Ca e Mg respectivamente, demonstrando, também, a estreita relação entre este parâmetro e a absorção de potássio pelas plantas, conforme observaram Acquaye et al. (1967), Graham & Fox (1971), Fassbender (1972), Simonis (1982) e Bull et al. (1993).

Todos os teores foliares de magnésio estão dentro da faixa adequada sugerida por Büll & Nakagawa (1995) para a cultura do alho, entretanto a maior relação (Ca+Mg)/K proporcionou absorção excessiva de cálcio, enquanto as duas menores relações exibiram concentrações foliares de cálcio em níveis abaixo do adequado.

Com relação à concentração de manganês na parte aérea, com médias de 21, 21, 24, 24, 18, 31, 42, 40 e 38 mg kg-1 respectivas às relações (Ca+Mg)/K atingidas, todos os parâmetros envolvendo o potássio no solo apresentaram correlação significativa, evidenciando elevação na absorção deste micronutriente diretamente proporcional aos níveis de potássio no solo, o que pode estar associado à redução nos níveis de cálcio no tecido foliar (Ventura et al., 1987; Büll et al., 1993), proporcionada pela maior absorção de potássio, o que encontra apoio nas correlações significativas entre o inverso das concentrações de Ca (r = 0,72) e Mg (r = -0,76). O potencial de potássio foi o parâmetro que melhor se correlacionou (r = -0,82) com a absorção de manganês pelas plantas de alho, demonstrando, da mesma forma que para os três cátions nutrientes estudados, que o balanço catiônico pode ser mais importante que a concentração isolada na estimativa da absorção deste micronutriente.

Os dados dos demais nutrientes não diferiram estatisticamente, com teores médios de 37 g kg-1 de N; 2,6 g kg-1 de P; 3,9g kg-1 de S; 66 mg kg-1 de Fe; 14 mg kg-1 de Zn; 6 mg kg-1 de Cu e 40 mg kg-1 de B.

Desenvolvimento da planta e produção de bulbos: A relação (Ca+Mg)/K no solo influenciou a altura das plantas em todas as épocas de avaliação, sendo que a relação 11,9 foi a que proporcionou os maiores valores de altura de plantas durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura (Figura 2). Estatisticamente, foram verificadas diferenças significativas entre esta relação e as duas menores (3,6 e 1,9) aos 23 e 118 dap, sendo que aos 62 e 97 dap as diferenças existiram apenas com a relação 1,9.

Figura 2
- Comprimento da maior folha de plantas de alho em quatro épocas de avaliação em função de variações no teor de K trocável e na relação (Ca+Mg)/K trocáveis no solo. Médias com mesma letra, em cada curva, não diferem estatísticamente entre si (Tukey, 0,05%).

Os dados mostraram também que o excesso da adubação potássica (relações 3,6 e 1,9) inibiu mais o crescimento das plantas do que a carência (relação 207,3), o que pode estar associado ao desbalanço catiônico em relação ao cálcio e magnésio (Rosolem et al., 1984) provocado pela absorção de luxo do potássio. Esta tendência foi confirmada pela análise de regressão simples entre o inverso da relação (Ca+Mg)/K e a altura das plantas com valores significativos de r = -0,94; r = -0,75; r = -0,86 e r = -0,90, para 23, 62, 97 e 118 dap, respectivamente em todo o ciclo da cultura.

Deve ser observado também na figura 2 que aos 23 dap, portanto apenas 20 dias após a emergência das plantas, os tratamentos já influenciavam a altura de plantas de forma bastante significativa, ao contrário da idéia corrente entre os produtores, de que, até aos 30 dap as plantas de alho se desenvolvem, em termos de absorção de nutrientes, às expensas das reservas nutricionais dos bulbilhos.

A relação (Ca+Mg)/K no solo influenciou a produção de bulbos (Figura 3). O teste de médias revelou que valores dessas relações compreendidos entre 45,5 e 5,1 proporcionaram produções de bulbos estatisticamente iguais. As maiores produções de bulbos foram obtidas com relações (Ca+Mg)/K no solo entre 7,5 e 18,5, que apresentaram produções estatisticamente iguais. Diferenças estatísticas para este parâmetro foram obtidas apenas quando se comparam as produções proporcionadas pelas relações compreendidas entre 45,5 e 5,1 com a maior relação (207,3), portanto com nível de potássio bastante baixo (TABELA 1) e com as duas menores relações (3,6 e 1,9), com níveis de K no solo muito altos; verifica-se, portanto, ser bastante ampla a faixa de variação na relação (Ca+Mg)/K do solo para a cultura do alho.

Figura 3
- Produção de bulbos de oito plantas por vaso em função de variações no teor de K trocável e na relação (Ca+Mg)/K trocáveis no solo. Médias com mesma letra, não diferem estatísticamente entre si (Tukey, 0,05%).

Observa-se nítida tendência de aumento na produção de bulbos com a dose de potássio aplicado até que se atinja valores de relação (Ca+Mg)/K entre 18,5 e 7,5, com um patamar máximo de produção nesta faixa, a partir da qual esta tende a cair, a níveis inclusive inferiores àquela produção obtida sem aplicação de potássio (207,3). Para cacaueiro, tomateiro e soja perene, as melhores produções de matéria seca foram obtidas para variações nesta relação entre 10,5 e 26,3 (Morais & Rosand, 1971, Lima et al. 1981; Büll et al., 1993). Considerando as relações K/(Ca+Mg)1/2, verifica-se que a produção aumentou até o valor 0,18 (Ca+Mg/K = 11,9), muito próximo do índice 0,20 sugerido por Castro & Meneghelli (1989) como limite para respostas a adubação potássica para a maioria das culturas.

Confrontando-se as figuras 1 e 3, verifica-se um paralelismo acentuado entre produção de bulbos e concentração de potássio na parte aérea dentro da faixa de relação (Ca+Mg)/K entre 18,5 e 7,5, sugerindo que teores foliares de potássio dentro da faixa 35 a 38 g kg-1 são os mais adequados para a produção de bulbos de alho. Teores de K acima de 42 g kg-1, inclusive, promoveram decréscimos na produção de bulbos provavelmente devido à redução na absorção de cálcio e magnésio, sendo que teores de K abaixo de 29 g kg-1 inclusive se mostraram insuficientes para uma produção adequada. Para o cálcio a faixa de concentração foliar adequada se situou entre 7,0 e 7,4 g kg-1 e para o magnésio entre 3,6 e 3,9 g kg-1.

Relacionando-se a produção de bulbos aos diversos índices analíticos envolvendo o potássio no solo, a melhor correlação na análise de regressão cúbica foi obtida com a saturação de potássio no complexo de troca (r = 0,98), seguida da relação K/(Ca+Mg)1/2 (r = 0,96), do potássio trocável (r = 0,96), do potencial de potássio (r = 0,95), da relação aK/(aCa+Mg)1/2 (r = 0,92) e atividade de potássio (r = 0,88); as relações (Ca+Mg)/K no complexo de troca (r = 0,85) e na solução do solo (r = 0,75) não apresentaram significância estatística. Estes resultados demonstram certa melhoria na correlação pela consideração de cálcio e magnésio nas respostas à adubação potássica pelo alho, no entanto, não muito superior da obtida com o potássio trocável, vindo ao encontro das resultados obtidos por Raij et al., (1981), nos quais o teor isolado de potássio trocável revelou-se eficaz nas respostas do milho à adubação potássica.

Tomando-se os quatro melhores parâmetros como referência, verifica-se que as maiores produções de bulbos foram obtidas com variações para %K entre 3,6% e 8,2%, K/(Ca+Mg)1/2 entre 0,12 e 0,29, K trocável entre 2,6 e 6,4 mmolc kg-1 e pK-0,5p (Ca+Mg) entre 1,69 e 1,17.

Recebido para publicação em 11.11.97

Aceito para publicação em 26.03.98

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  • 1
    Trabalho apresentado no XXXIV Congresso Brasileiro de Olericultura, Águas de São Pedro-SP, 7-12 de agosto de 1994.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Maio 1999
    • Data do Fascículo
      1998

    Histórico

    • Aceito
      26 Mar 1998
    • Recebido
      11 Nov 1997
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