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"Técnica de Brandalise": técnica mista de fundoplicatura por videolaparoscopia - reconhecimento de autoria de modificação e introdução de técnica anti-refluxo no Brasil

"Brandalise Technique": Fundoplication Mix Technique by videolaparoscopy - authorship recognition of the modification and introduction of the anti-reflux technique in Brazil

EDITORIAL

"Técnica de Brandalise" – técnica mista de fundoplicatura por videolaparoscopia – reconhecimento de autoria de modificação e introdução de técnica anti-refluxo no Brasil

"Brandalise Technique" – Fundoplication Mix Technique by videolaparoscopy - authorship recognition of the modification and introduction of the anti-reflux technique in Brazil

Nelson Adami AndreolloI; Luiz Roberto LopesII

IProfessor Titular - Disciplina de Moléstias do Aparelho Digestivo - Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

IIProfessor Associado - Disciplina de Moléstias do Aparelho Digestivo - Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Nelson Adami Andreollo E-mail: gastro@fcm.unicamp.br

A técnica usada para o tratamento da doença do refluxo-gastroesofágico (DRGE) e reproduzida por videovideolaparoscopia inicialmente foi a de Lind ou Nissen com a liberação dos vasos gástricos curtos. O estímulo e a visão de futuro que sempre fez parte da vida acadêmica e médica do Dr. Nelson Ary Brandalise, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, o levaram a investir na nova técnica vinda da Europa2 e introduzida em sua clínica particular a partir de 1992. Como toda nova técnica, que neste caso seria a via de acesso o grande avanço na cirurgia do aparelho digestivo, há um período de aprendizado.

Foi em uma dessas operações de fundoplicatura parcial tipo Lind que o Prof. Brandalise, ao preparar a válvula para realizar a fundoplicatura parcial, primeiro colocou um ponto total envolvendo o esôfago com o fundo gástrico para facilitar sua confecção. A seguir fez a aproximação do estômago ao esôfago lateralmente para a confecção da válvula parcial de Lind, com dois pontos acima deste primeiro total e dois abaixo, sendo um de cada lado do esôfago. Ao final do procedimento fazia a secção desse ponto total, transformando-a então na válvula parcial. Considerando que a fundoplicatura confeccionada desta maneira tivesse ficado muito satisfatória, passou a não cortar o primeiro ponto total, além de continuar a realizá-lo rotineiramente desde então.

No dia 21 de dezembro de 1993, foi realizada a primeira operação por videolaparoscopia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, para tratamento de paciente portador de DRGE, procedimento este realizado pelo Grupo de Esôfago-Estômago-Duodeno da Disciplina de Moléstias do Aparelho Digestivo do Departamento de Cirurgia na pessoa do seu coordenador o Prof. Brandalise, com a participação dos professores Nelson Adami Andreollo e Luiz Roberto Lopes. A aquisição do equipamento completo de videolaparoscopia se deu pela insistência do Prof. Brandalise com um projeto de pesquisa apresentado à FAPESP e aprovado com a liberação dos recursos viabilizando a sua compra. Assim, na ocasião soubemos que o Hospital das Clínicas da UNICAMP foi o primeiro hospital público do país a adquirir um equipamento completo de videocirurgia para a realização desta nova modalidade de procedimento cirúrgico.

Em 1995 o grupo do Prof. Brandalise na clínica particular, apresentou um tema livre em congresso mostrando a experiência inicial com a técnica aperfeiçoada por ele e os bons resultados encontrados, denominando-a de Técnica Mista, em função de ser uma composição da técnica parcial de Lind e total de Nissen. Neste mesmo ano, ela foi publicada na revista GED - Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva mostrando a experiência inicial no tratamento de portadores de DRGE1.

No Hospital das Clínicas da UNICAMP, o grupo capitaneado pelo Prof. Brandalise passou também e reproduzir o mesmo procedimento, observando excelentes resultados pós-operatórios.

O entusiasmo pela técnica laparoscópica e os resultados demonstrados com essa modificação na realização da fundoplicatura, levaram o Dr. Luiz Roberto sob orientação do Prof. Brandalise, a estudar de maneira mais detalhada os seus resultados clínicos e funcionais, resultando em sua tese de doutorado apresentada em 1998 com a avaliação de 59 pacientes. O trabalho foi publicado na Revista da Associação Médica Brasileira em 2001 com o título "Tratamento cirúrgico videolaparoscópico da doença do refluxo gastroesofagiano: Técnica de Nissen modificada – Resultados clínicos e funcionais"3. Os dados encontrados mostraram que ela alcançou, em seguimento médio de 21,8 meses, resultados excelentes e bons em 93,6% dos pacientes. Também os parâmetros estudados no pré e pós-operatório - endoscopia digestiva alta, estudo radiográfico contrastado do esôfago, estômago e duodeno, manometria e pHmetria -, mostraram melhora com diferença estatisticamente significante. Ao exame de manometria o valor médio do tônus do esfíncter esofágico inferior passou de 4,8 mmHg no pré-operatório para 11,8 mmHg no pós-operatório, atestando a eficiência dessa válvula modificada.

Neste momento, antes da apresentação da tese e posteriormente antes da publicação do trabalho, discutimos com o Prof. Brandalise ser merecido e justo, que esta modificação introduzida em nosso meio e já amplamente conhecida e executada por todo o país4 e testada cientificamente, recebesse o nome de "Técnica de Brandalise". Como era de se esperar, ele, com toda a sua humildade, abriu mão desta deferência e não conseguimos fazê-lo aceitar esta denominação.

Passados agora mais de 15 anos de experiência com a técnica e tendo já sido realizado no nosso grupo da faculdade mais de 500 operações, que somadas aos aproximados 1.500 procedimentos da clínica particular do mentor e incontáveis outras vezes usadas pelos adeptos da técnica no Brasil, entendemos que é hora de atribuirmos ao idealizador o nome de "Técnica de Brandalise" para que não haja dúvida de sua origem e de quem partiu a idéia de sua execução.

O próprio Prof. Brandalise já acrescentou mudanças que a tornaram mais adequada do ponto de vista anatômico e provavelmente funcional, como a utilização da parede posterior do fundo gástrico para a sua execução e o acréscimo de mais um ou dois pontos totais além daquele inicial.

No nosso ponto de vista, pela experiência adquirida com o uso dessa operação, a "Técnica de Brandalise" é uma realidade e pode ser aplicada em grande parte dos pacientes com DRGE alcançando excelentes resultados.

Assim sendo a fundoplicatura mista ou técnica de Nissen modificada, deve ser conhecida e reconhecida como "Técnica de Brandalise" em todos os meios acadêmicos, científicos e na prática diária.

Fonte de financiamento: não há

Conflito de interesse: não há

Recebido para publicação: 02/03/2008

Aceito para publicação: 20/04/2008

Trabalho realizado na Disciplina de Moléstias do Aparelho Digestivo, Departamento de Cirurgia, FCM – UNICAMP, Barão Geraldo – Campinas – SP

  • 1. Aranha NC; Brandalise NA. Tratamento videolaparoscópico da esofagite de refluxo pela técnica "mista" (Nissen Modificada). GED 1995; 14:219-222.
  • 2. Dallemagne B, Weerts Jm, Jehaes C. Laparoscopic Nissen fundoplication. A preliminary report. Surg. Lapar. Endosc. 1991; 1:138-43.
  • 3. Lopes LR; Brandalise NA; Andreollo NA; Leonardi LS. Tratamento cirúrgico videolaparoscópico da doença do refluxo gastroesofagiano: Técnica de Nissen Modificada Resultados clínicos e funcionais. Rev. Ass. Med. Bras. 2001; 47: 141-148.
  • 4. Zilberstein B; Ramos AC; Sallet JA; Engel FC; Tanikawa DYS. Esofagogastrofundoplicatura videolaparoscópica por técnica mista. Rev Col Bras Cir 1999; 26:341-345.
  • Endereço para correspondência:
    Nelson Adami Andreollo
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Set 2010
    • Data do Fascículo
      Jun 2008
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