Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação do comportamento de diferentes cepas do Trypanosoma cruzi na infecção de seis linhagens isogênicas de camundongos

Resumos

O estudo da infecção de camundongos de seis diferentes linhagens isogênicas (A/J, AKR, Balb/c, C3H, C57BL/10 e DBA) pelas cepas do Trypanosoma cruzi- peruana (Tipo I), 21SF (Tipo II) e colombiana (Tipo III) demonstrou que as diferentes cepas do T. cruzi conservam os seus caracteres básicos na infecção das diversas linhagens de camundongos. O grau de resistência de cada linhagem varia conforme o tipo da cepa. Todas as linhagens mostraram alta susceptibilidade à infecção pela cepa peruana; em relação às cepas 21SF e colombiana, os padrões de resistência de cada linhagem variam de acordo com a cepa, formando um espectro, que difere entre as duas cepas citadas, sendo em geral mais reistentes as linhagens DBA e B-10 e menos resistentes as linhagens AKR e A/J. Os animais de todas as linhagens infectados com quaisquer das cepas apresentaram alterações das imunoglobulinas com diminuição precoce da IgG1 e elevação de IgG2a' IgG2b e IgM. Houve uma correlação entre o aumento de IgG2a e o grau de reação inflamatória. O infiltrado inflamatório variou de acordo com as linhagens de camundongo, sendo moderado e mononuclear nas mais susceptíveis e com predomínio de polimorfonucleares nas mais resistentes. Os resultados sugerem que as características do parasito são o fator determinante do padrão básico da infecção pelo T. cruzi

Trypanosoma cruzi; Cepas do T. cruzi; Tipos de cepas; Camundongos isogênicos


The behavior of three strains o/Trypanosoma cruzi, classijied according to their morphobiological, histopathological and isoenzymic characters, as Typel (Peruvian strain), Type II (21 SF strain) and TypelII (Colombian strain), was evaluated by the infection of six inbred strains of mice: A/J, AKR, Balb/c C3H, C57BL/10 and DBA. It was observed that the three strains of T. cruzi maintained their basic characteristic in respect to parasitemia, survival time, histopathological lesions and tissue tropism in all the mouse strains. The Peruvian strain (Type I) resulted in a high mortality in all the animals; on the other hand the infection with the 21 SF (Type II) and Colombian /Type III) strains displayed a variable pattem of mortality determining a singular spectrum of resistance to eachparasite strain. Early decrease of IgG1 and Progressive rise of IgG2a> IgG2b and IgM leveis, was observed, independently of the mouse or the parasite strain. There was a correlation between increased IgG2a leveis and intensity of the inflammatory process. Exudative lesions with polymorphonuclear neutrophils occurred in the resistant mice while a scarce infiltrate with predominance of mononuclear cells was observed in the more suceptible mouse strain. Our results suggest that the characteristics of T. cruzi strains are of the upmost importance in the course of the infection, but the host strain also plays a very important role in the process.

Trypanosoma cruzi; Strain of T. cruzi; Strain types; Isogenic mice


ARTIGOS

Avaliação do comportamento de diferentes cepas do Trypanosoma cruzi na infecção de seis linhagens isogênicas de camundongos

Virgínia Andrade; Sonia G. Andrade; Manoel Barrai Netto; Albélia L. Pontes; Rosângela Castro

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dra. Sonia G. Andrade CPqGM Rua Valdemar Falcão, 121 Brotas 40.000 Salvador, Bahia, Brasil.

RESUMO

O estudo da infecção de camundongos de seis diferentes linhagens isogênicas (A/J, AKR, Balb/c, C3H, C57BL/10 e DBA) pelas cepas do Trypanosoma cruzi- peruana (Tipo I), 21SF (Tipo II) e colombiana (Tipo III) demonstrou que as diferentes cepas do T. cruzi conservam os seus caracteres básicos na infecção das diversas linhagens de camundongos. O grau de resistência de cada linhagem varia conforme o tipo da cepa. Todas as linhagens mostraram alta susceptibilidade à infecção pela cepa peruana; em relação às cepas 21SF e colombiana, os padrões de resistência de cada linhagem variam de acordo com a cepa, formando um espectro, que difere entre as duas cepas citadas, sendo em geral mais reistentes as linhagens DBA e B-10 e menos resistentes as linhagens AKR e A/J. Os animais de todas as linhagens infectados com quaisquer das cepas apresentaram alterações das imunoglobulinas com diminuição precoce da IgG1 e elevação de IgG2a' IgG2b e IgM. Houve uma correlação entre o aumento de IgG2a e o grau de reação inflamatória. O infiltrado inflamatório variou de acordo com as linhagens de camundongo, sendo moderado e mononuclear nas mais susceptíveis e com predomínio de polimorfonucleares nas mais resistentes. Os resultados sugerem que as características do parasito são o fator determinante do padrão básico da infecção pelo T. cruzi

Palavras-chave:Trypanosoma cruzi. Cepas do T. cruzi. Tipos de cepas. Camundongos isogênicos.

ABSTRACT

The behavior of three strains o/Trypanosoma cruzi, classijied according to their morphobiological, histopathological and isoenzymic characters, as Typel (Peruvian strain), Type II (21 SF strain) and TypelII (Colombian strain), was evaluated by the infection of six inbred strains of mice: A/J, AKR, Balb/c C3H, C57BL/10 and DBA. It was observed that the three strains of T. cruzi maintained their basic characteristic in respect to parasitemia, survival time, histopathological lesions and tissue tropism in all the mouse strains. The Peruvian strain (Type I) resulted in a high mortality in all the animals; on the other hand the infection with the 21 SF (Type II) and Colombian /Type III) strains displayed a variable pattem of mortality determining a singular spectrum of resistance to eachparasite strain. Early decrease of IgG1 and Progressive rise of IgG2a> IgG2b and IgM leveis, was observed, independently of the mouse or the parasite strain. There was a correlation between increased IgG2a leveis and intensity of the inflammatory process. Exudative lesions with polymorphonuclear neutrophils occurred in the resistant mice while a scarce infiltrate with predominance of mononuclear cells was observed in the more suceptible mouse strain. Our results suggest that the characteristics of T. cruzi strains are of the upmost importance in the course of the infection, but the host strain also plays a very important role in the process.

Keywords:Trypanosoma cruzi. Strain of T. cruzi. Strain types. Isogenic mice.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 14/07/84.

Trabalho desenvolvido no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, FIOCRUZ/UFBA e financiado pelo National Institute of Health Grant n.° 16282; pelo UNDP/ World Bank/WHO Special Program for Research and Training in Tropical Diseases e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIDE V).

  • 1. Andrade SG. Caracterização de cepas de Trypanosoma cruzi isoladas no Recôncavo Baiano (Contribuição ao estudo da patologia geral da doença de Chagas em nosso meio). Revista de Patologia Tropical 3:65-121, 1974.
  • 2. Andrade SG, Andrade V, Rocha F? FD, Barrai Netto M. Análise antigênica de diferentes cepas do Trypanosoma cruzi Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 23:245-250, 1981.
  • 3. Andrade V, Brodskyn C, Andrade SG. Correlation between isoenzyme patterns and biological behaviour of different strains of T. cruzi Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine & Hygiene 77:796-799, 1983.
  • 4. Andrade SG, Andrade ZA. Estudo de uma mesma cepa do Trypanosoma cruzi em diferentes hospedeiros. Resumos do XV Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Campinas, p. 15, 1979.
  • 5. Brener Z. Contribuição ao estudo da terapêutica experimental da doença de Chagas. Tese, Belo Horizonte, 1961.
  • 6. Brener Z. Intranspecific variation in Trypanosoma cruzi: two types of parasite populations presenting distinet features. PAHO Scientific Publication 347:11- 21, 1977.
  • 7. Brener Z, Chiari E, Alvarenga NJ. Observations on T. cruzi strains maintained over an 8 year period in experimentally inoculated mice. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 16:32-38, 1974.
  • 8. Camargo ME. Diagnóstico de laboratório In: Brener Z, Andrade ZA (ed) Trypanosoma cruzi e doença de Chagas. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, pp. 175- 198, 1979.
  • 9. Cossio PM, Diez C, Szarfman A, Krentzen E, Candiolo B, Arana RM. Chagasic cardiopathy. Demonstration of a serum gama globulin factor which reacts with endocardium and vascular structures. Circulation 49:13-21, 1974.
  • 10. Dvorak JA, Hartman DL, Milles MA. Trypanosoma cruzi: Correlation of growth kinetics to zymodeme type in clones derived from various sources. Journal of Protozoology 27:472-474, 1980.
  • 11. Federici EE, Abelmann WB, Neva FA. Chronic Progressive myocarditis and myositis in C3H mice infected with Trypanosoma cruzi American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 13:272-280, 1964.
  • 12. Galvão Castro B, Morgado MG, Schmocker K. Immunopathology of American Trypanosomiasis: immune complexes, complement C3, immunoglobulins and immune response in experimental Chagas' disease. Anais do Congresso International de doença de Chagas. Rio de Janeiro, Brazil p. 179, 1979.
  • 13. Gonçalves AM, Chiari E, Deane MP, Carneiro M, Romanha AJ, Morel C. Schizodeme characterization of natural and artificial populations of Trypanosoma cruzi as a tool in the study of Chagas disease. In: Newton BA (ed). Application of biochemical and molecular biology techniques to problems of parasite and vector identification. Proceedings of an International Symposium, World Health Organization, Geneva, 1-10 Nov. 1982.
  • 14. Mancini G, Carbonara AO, Heremans JF. Immunological quantitation of antigens by single radial immunodiffusion. Immunochemistry 2:235, 1965.
  • 15. Miles MA, Lanham SM, Souza AA, Póvoa M. Further enzymic characters of Trypanosoma cruzi and their evaluation for strain identification. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 74: 221-237, 1980.
  • 16. Morei C. Chiari E, Plesmann Camargo E, Mattei DM, Romanha AJ, Simpson L. Strains and clones of Trypanosoma cruzi can be characterized by pattern of restriction endonuclease products of kinetoplast DNA minicircles. Proceedings of the National Academy of Science, USA 77: 6810-6814, 1980.
  • 17. Morei C, Simpson L. Characterization of pathogenic trypanosomatidae by restriction endonuclease finger- prints of kinetoplast DN A minicircles. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 29 Suppl: 1070-1074, 1980.
  • 18. Nussenzweig V, Goble F. Further studies on the antigenic constitution of strains of Trypanosoma (Schyzotrypanum) cruzi experimental. Parasitology 18:224-230, 1966.
  • 19. Pizzi T, Prager R. Estabilization de la virulência de una cepa de Trypanosoma cruzi por pasage seriado en ratones de constitution genetica uniforme: analisis quantitative del curso de la infeccion. Biologia (16-17): 3-12, 1952.
  • 20. Postan M, Dvorak JA, McDaniel JP. Studies of Trypa-nosoma cruzi clones in bred mice. I-A comparision of the course of the infection of C3H/HEN-mice with two clones isolated from a common source. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 32: 479-506, 1983.
  • 21. Postan M, McDaniel JP, Dvorak JA. Studies of Trypanosoma cruzi clones in inbred mice. II - Course of infection of C57BL/6 mice with single-cell-isolated stocks. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 33:236-238, 1984.
  • 22. Ribeiro dos Santos R, Hudson L. Trypanosoma cruzi: binding of parasite antigens to mammalian cell membranes. Parasite Immunology 2:1-10, 1980.
  • 23. Romanha AJ. Heterogeneidade isoenzimática em Trypanosoma cruzi Tese, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1982.
  • 24. Rocha Filho FD. Estudo comparativo de cepas do Trypanosoma cruzi de diferentes procedências. Tese, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1979.
  • 25. Silva JC. Doença de Chagas experimental. Possível participação da resposta imune humoral na patogênese das lesões musculares esqueléticas e cardíacas. Tese, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1982.
  • 26. Stefani MMA, Takeara HA, Mota I. Isotype of antibodies responsible for immune lysis in Trypanosoma cruzi infected mice. Immunology Letters 7:91-97, 1983.
  • 27. Takeara HA. Anticorpos na infecção experimental pelo Trypanosoma cruzi: função das diferentes classes e subclasses no mecanismo de proteção. Tese, São Paulo, 1980.
  • 28. Teixeira ARL, Teixeira G, Macedo V, Prata A. Trypanosoma cruzi sensitized T-lymphocyte mediated 5 lcr release from human heart cells in Chagas' disease. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 27:1097-1107, 1978.
  • 29. Trischmann TM, Tanowit H, Wittner M, Bloom BR. Trypanosoma cruzi'. Role of the immune response in the natural resistance of inbred strains of mice. Experimental Parasitology 45:160-178, 1968.
  • 30. Trischmann TM, Bloom BR. Genetics of murine resistance to Trypanosoma cruzi Infection and Immunity 35:546-551, 1982.
  • Endereço para correspondência:

    Dra. Sonia G. Andrade
    CPqGM
    Rua Valdemar Falcão, 121
    Brotas
    40.000
    Salvador, Bahia, Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Set 1985

    Histórico

    • Recebido
      14 Jul 1984
    • Aceito
      14 Jul 1984
    Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
    E-mail: rsbmt@uftm.edu.br