Acessibilidade / Reportar erro

Convergência, Comunicação, e Impacto da Pesquisa em Negócios


Neste primeiro editorial do volume 23 da Revista de Administração Contemporânea (RAC), neste ano de 2019 cercado de expectativas, desejo abordar dois assuntos que julgo relevantes para os esforços de pesquisa em negócios, sobretudo no ambiente de economias emergentes: convergência e comunicação da pesquisa. Os esforços de pesquisa não somente devem possuir um propósito, mas também precisam ser responsivos às mudanças pelas quais o mundo vem passando, em direção a um contexto de crescente complexidade (Medina, Goles, Zarama, & Rica, 2017Medina, P., Goles, E., Zarama, R., & Rica, S. (2017). Self-organized societies: On the Sakoda model of social interactions. Complexity, (2), 1-16. https://doi.org/10.1155/2017/3548591
https://doi.org/10.1155/2017/3548591...
). Em outras palavras, os esforços de pesquisa devem considerar as necessidades da sociedade, e os problemas que delas decorrem. Em um conhecido programa de televisão brasileiro (TV Cultura, 2016TV Cultura. (2016, maio 19). Roda Viva - Lee Sing Kong. Recuperado de https://youtu.be/t-Io2ZfqUtU
https://youtu.be/t-Io2ZfqUtU...
), o Professor Lee Sing Kong, ex Diretor do Instituto Nacional de Educação de Singapura, quando perguntado acerca dos aspectos que ele julgava pilares do sistema educacional daquele país, respondeu: desenvolver a capacidade dos nossos estudantes para duas habilidades - saber perguntar e saber trabalhar em equipe.

A primeira dessas capacidades é especialmente interessante para a pesquisa acadêmica. A esse respeito o Professor Kong argumentava que dada a crescente complexidade dos problemas do mundo moderno, uma pergunta adequadamente formulada deve refletir uma gama de aspectos correlatos, oriundos de diferentes domínios, daí decorre a necessidade do pesquisador deter habilidades de observar e refletir, nas suas perguntas, a complexidade dos problemas. A segunda habilidade destacada pelo Professor Kong, saber trabalhar em equipe, seria uma extensão da mesma visão, e é consequência da necessidade colaborar em projetos cada vez mais complexos. Isto é, o pesquisador deve ser capaz de dialogar com indivíduos de diferentes áreas de conhecimento, e com a sociedade, de modo a capturar a essência dos problemas que se apresentam, e que estão por vir.

Para que essa abordagem seja algo presente e constatado na pesquisa desenvolvida na área de negócios, que por natureza é caraterizada pela necessidade de refletir diferentes domínios e campos distintos de conhecimento, é necessário haver atenção para dois aspectos antecedentes, os quais se entende devam desempenhar o papel de bússola para os programas de pesquisa em negócios cujo Norte seja o impacto na sociedade: convergência e comunicação. Convergência congrega conhecimento, ideias, e ferramentas de diferentes campos de conhecimento de modo a estimular pesquisas inovadoras (Mendes-Da-Silva, 2019Mendes-Da-Silva, W. (2019). Individual behaviors and technologies for financial innovations. New York: Sage. https://doi.org/10.1007/978-3-319-91911-9
https://doi.org/10.1007/978-3-319-91911-...
). Isto representa uma mudança significativa de cultura para instituições de pesquisa na área de negócios, assim como para empresas e organizações interessadas em manter o tema da inovação na sua agenda.

Com frequência, empresas e instituições de pesquisa possuem estruturas organizacionais que se representam sob a forma de departamentos, e esses por sua vez frequentemente são baseados em disciplinas (Ertas, Maxwell, Rainey, & Tanik, 2003Ertas, A., Maxwell, T., Rainey, V. P., & Tanik, M. M. (2003). Transformation of higher education: The transdisciplinary approach in engineering. IEEE Transactions on Education, 46(2), 289-295. https://doi.org/10.1109/TE.2002.808232
https://doi.org/10.1109/TE.2002.808232...
). Assim, problemas complexos, tais como: mudanças climáticas, transição etária, redução da pobreza e da fome, movimentos migratórios involuntários, justiça social, disseminação de doenças, energias renováveis, saúde humana, entre outros, exigem abordagens igualmente complexas e multidisciplinares.

Convergência da pesquisa em negócios

A National Science Foundation (NSF, 2016National Science Foundation. (2016). NSF's 10 big ideias. Retrieved from https://www.nsf.gov/news/special_reports/big_ideas/index.jsp
https://www.nsf.gov/news/special_reports...
), ao anunciar seus investimentos prioritários apontou 10 temas julgados relevantes, por ela chamados de 10 Big Ideas. A convergência da pesquisa pode ser vista como um meio de resolver problemas de pesquisa, em particular, problemas complexos que enfocam as necessidades da sociedade. Implica integrar conhecimentos, métodos e conhecimentos de diferentes disciplinas, e formar novas estruturas para catalisar descobertas e inovações científicas. A convergência da pesquisa está relacionada a outras formas de pesquisa que abrangem disciplinas - transdisciplinaridade, interdisciplinaridade e multidisciplinaridade. É o mais próximo da pesquisa transdisciplinar, que foi historicamente vista como o auge da integração evolutiva entre disciplinas (Battard, 2012Battard, N. (2012). Convergence and multidisciplinarity in nanotechnology: Laboratories as technological hubs. Technovation, 32(3/4), 234-244. https://doi.org/10.1016/j.technovation.2011.09.001
https://doi.org/10.1016/j.technovation.2...
; Linton, Klassen, & Jayaraman, 2007Linton, J. D., Klassen, R., & Jayaraman, V. (2007). Sustainable supply chains: An introduction. Journal of Operations Management, 25(6), 1075-1082. https://doi.org/10.1016/j.jom.2007.01.012
https://doi.org/10.1016/j.jom.2007.01.01...
; Nyberg, Moliterno, Hale, & Lepak, 2014Nyberg, A. J., Moliterno, T. P., Hale, D., & Lepak, D. P. (2014). Resource-based perspectives on unit-level human capital: A review and integration. Journal of Management, 40(1), 316-346. https://doi.org/10.1177/0149206312458703
https://doi.org/10.1177/0149206312458703...
). Essa noção tem suportado áreas de pesquisa em negócios caracterizadas pelo domínio conexo e pela interdisciplinariedade, como é o caso da Biomimética em negócios (Benyus, 1997Benyus, J. M. (1997). Biomimicry, innovation inspired by nature. New York, NY: HarperCollins e-books.; Foss, 1994Foss, N. J., (1994). The biological analogy and the theory of the firm: Marshall and monopolistic competition. Journal of Economic Issues, 28(4), 1115-1136. https://doi.org/10.1080/00213624.1994.11505614
https://doi.org/10.1080/00213624.1994.11...
; Iansiti & Levien, 2004Iansiti, M., & Levien, R. (2004). Strategy as ecology. Harvard Business Review, 68-78.; Lovins, Lovins, & Hawken, 1999Lovins, A. B., Lovins, L. H., & Hawken, P. (1999). A road map for natural capitalism. Harvard Business Review, 73(3), 145-158.; Moore, 1993Moore, J. F. (1993). Predators and prey: The new ecology of competition. Harvard Business Review, 71(3), 75-83. ; Peltoniemi & Vuori, 2004Peltoniemi, M., & Vuori, E., (2004). Business ecosystem as the new approach to complex adaptive business environments. e-Business Research Center - Frontiers of e-Business Research, 267-281.; Schneider & Somers, 2006Schneider, M., & Somers, M. (2006). Organizations as complex adaptive systems: Implications of complexity theory for leadership research. The Leadership Quarterly, 17(4), 351-365. https://doi.org/10.1016/j.leaqua.2006.04.006
https://doi.org/10.1016/j.leaqua.2006.04...
).

A NSF identifica a Pesquisa Convergente como detentora de duas características essenciais. Primeiro, a pesquisa deve ser conduzida por um problema específico e convincente. A pesquisa convergente é geralmente inspirada pela necessidade de abordar um desafio, ou uma oportunidade específica, seja decorrente de questões científicas profundas, ou de necessidades sociais prementes. A segunda característica essencial sugere que haja integração profunda entre disciplinas. Dado que especialistas de diferentes disciplinas persigam desafios comuns de pesquisa, seus conhecimentos, teorias, métodos, dados, comunidades de pesquisa, e idiomas tornam-se cada vez mais compartilhados, ou integrados. Novas estruturas, paradigmas, ou mesmo disciplinas, podem formar interações sustentadas em várias comunidades.

O paradigma da convergência une, não ao acaso, pesquisadores intelectualmente diversos para desenvolver formas eficazes de comunicação entre disciplinas. Além disso, adota estruturas comuns, e uma nova linguagem científica, que pode, por sua vez, permitir resolver o problema que engendrou a colaboração, desenvolvendo novas formas de enquadrar questões de pesquisa; e abrir novas perspectivas de investigação. Para permitir a pesquisa de convergência faz-se necessário abordar os principais desafios técnicos, organizacionais e logísticos que atualmente dificultam a pesquisa verdadeiramente transdisciplinar ao redor do mundo. Isso envolve uma análise crítica dos critérios e métricas e a adaptação do processo de análise de mérito para representar a ampla especialização necessária para julgar e adequadamente identificar melhores ideias e projetos.

A NSF reconhece que a convergência de disciplinas é um processo. Em consequência, procura promover abordagens convergentes entre equipes com diferentes graus de integração entre suas disciplinas, e em diferentes estágios de maturidade, para adotar uma estratégia de convergência. As principais considerações são o potencial para o avanço de um desafio de pesquisa convincente, que requer uma integração nova e profunda de conhecimentos, e evidências de que as atividades propostas desenvolverão convergência.

A temática da convergência da pesquisa científica também encontra espaço na comunidade científica da Europa (Science Europe, 2014Science Europe. (2014, September 18 and19). Workshop Report: Convergence of Disciplines. Retrieved from https://www.scienceeurope.org/wp-content/uploads/2015/12/Workshop_Report_Convergence_FINAL.pdf
https://www.scienceeurope.org/wp-content...
). Para a Science Europe (2014)Science Europe. (2014, September 18 and19). Workshop Report: Convergence of Disciplines. Retrieved from https://www.scienceeurope.org/wp-content/uploads/2015/12/Workshop_Report_Convergence_FINAL.pdf
https://www.scienceeurope.org/wp-content...
, a convergência pode desempenhar um papel central na abordagem de muitas questões-chave em toda a ciência, tecnologia e sociedade, reunindo pesquisadores de diferentes disciplinas, incluindo-se humanidades e ciências sociais e aplicadas. Busca-se trabalhar para uma visão comum, um objetivo comum, e/ou um desafio global. Convergência é então vista como uma ferramenta de governança do aparelho de pesquisa científica. Nesse sentido, assume-se que a convergência não se restringe a questões de pesquisa aplicada, mas sim a pesquisa per se, que inclui pesquisa básica. No nível das organizações de alcance internacional, a Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD), por exemplo, decidiu criar um Comitê de Convergência.

A respeito da convergência de pesquisa especificamente em negócios, mas considerando a convergência como tópico de pesquisa per se (convergência como modelo de negócio), Gustafsson e Schwarz (2013)Gustafsson, V., & Schwarz, E.J. (2013). Business modelling and convergence. In S. Diehl & M. Karmasin (Eds.), Media and convergence management. Springer International Publishing. Retrieved from https://pdfs.semanticscholar.org/faf4/595e1e4ff8f5cf4ce33302725cc56873a8ab.pdf https://doi.org/10.1007/978-3-642-36163-0_2
https://pdfs.semanticscholar.org/faf4/59...
destacam que firmas que dediquem atenção especial à convergência terão uma vantagem comparativa em decorrência da capacidade superior de criar e propor produtos efetivamente inovadores e originadores de valor para o consumidor. Chesbrough (2010)Chesbrough, H. (2010). Business model innovation: Opportunities and barriers. Long Range Planning, 43(2/3), 354-363. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2009.07.010
https://doi.org/10.1016/j.lrp.2009.07.01...
acrescenta que a firma deve se propor a experimentar e arriscar na busca de novos produtos. A respeito da convergência como atributo de um projeto de pesquisa em quaisquer temas de interesse em negócios, entende-se que este seria um aspecto desejável vis a vis a possibilidade de permitir que os resultados de pesquisa sejam de maior impacto no mundo real.

Ao considerar a agenda de pesquisa apontada na literatura de negócios, em diversas áreas de interesse, tais como empreendedorismo (Sutter, Bruton, & Chen, 2019Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018....
), finanças (Brooks & Schopohl, 2018Brooks, C., & Schopohl, L. (2018). Topics and trends in finance research: What is published, who publishes it and what gets cited? The British Accounting Review, 50(6), 615-637. https://doi.org/10.1016/j.bar.2018.02.001
https://doi.org/10.1016/j.bar.2018.02.00...
), operações (Ansari & Kant, 2017Ansari, Z. N., & Kant, R. (2017). Exploring the framework development status for sustainability in supply chain management: A systematic literature synthesis and future research directions. Business Strategy and the Environment, 26(7), 873-892. https://doi.org/10.1002/bse.1945
https://doi.org/10.1002/bse.1945...
; Guha & Kumar, 2018Guha, S., & Kumar, S. (2018). Emergence of big data research in operations management, information systems, and healthcare: Past contributions and future roadmap. Production and Operations Management, 27(9), 1724-1735. https://doi.org/10.1111/poms.12833
https://doi.org/10.1111/poms.12833...
; Tanco, Escuder, Heckmann, Jurburg, &Velazquez, 2018Tanco, M., Escuder, M., Heckmann, G., Jurburg, D., & Velazquez, J. (2018). Supply chain management in Latin America: current research and future directions. Supply Chain Management, 23(5), 412-430. https://doi.org/10.1108/SCM-07-2017-0236
https://doi.org/10.1108/SCM-07-2017-0236...
) , recursos humanos (Budhwar, Tung, Varma, Do, 2017Budhwar, P., Tung, R. L., Varma, A., & Do, H. (2017). Developments in human resource management in MNCs from BRICS nations: A review and future research agenda. Journal of International Management, 23(2), 111-123. https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04.003
https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04...
), turismo (Madera, Dawson, Guchait, & Belarmino, 2017Madera, J. M., Dawson, M., Guchait, P., & Belarmino, A. M. (2017). Strategic human resources management research in hospitality and touri c\sm: A review of current literature and suggestions for the future. International Journal of Contemporary Hospitality Management, 29(1), 48-67. https://doi.org/10.1108/IJCHM-02-2016-0051
https://doi.org/10.1108/IJCHM-02-2016-00...
; Ryan, 2018Ryan, C. (2018). Future trends in tourism research - Looking back to look forward: The future of 'Tourism Management Perspectives'. Tourism Management Perspectives, 25, 196-199. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2017.12.005
https://doi.org/10.1016/j.tmp.2017.12.00...
), administração pública (Cappellaro, 2017Cappellaro, G. (2017). Ethnography in public management research: A systematic review and future directions. International Public Management Journal, 20(1), 14-48. https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04.003
https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04...
), entre outras, nota-se a necessidade de considerar a visão de pesquisa convergente, ainda que alguns estudos recentes já tragam a abordagem convergente como pilar central do argumento ao redor da contribuição do estudo (Sutter et al., 2019Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018....
).

Comunicação da pesquisa em negócios

Para que haja convergência dos esforços de pesquisa é necessário que haja comunicação (National Academies of Sciences, Engeneering and Medicine, 2014National Academies of Sciences, Engeneering and Medicine . (2014). What is conve rgence? Retrieved from https://youtu.be/QTP3X_qExcQ
https://youtu.be/QTP3X_qExcQ...
). A ideia do pesquisador solitário e isolado do mundo real já não é tão facilmente aceita. Nos tempos atuais, a pesquisa científica é construída com base em diálogos, seja entre os pares, com outros campos de conhecimento (em linha com convergência), com estudantes, ou com os diversos setores da sociedade. A comunicação com os pares é essencialmente concentrada nos novos avanços e progressos do conhecimento científico. Nesse diálogo são abordados os avanços em diferentes graus de contribuição, desde os mais modestos até aqueles com características de elevado potencial disruptivo. Assim, apresentações realizadas em eventos científicos, publicação de artigos científicos, e outras formas de disseminação de conhecimento são os canais mediante os quais a comunidade acadêmica se faz representar junto ao seu público. Contudo, os desafios da investigação científica vão para além da comunicação entre pares.

Em nome da promoção do impacto (no mundo real) da pesquisa, apresenta-se como imperativo o compartilhamento de espaços e causas, de modo a serem perseguidas sinergias entre os pesquisadores de diferentes domínios. Isto inclui o compartilhamento de instalações, de habilidades, e até mesmo de dados (Hardwicke et al., 2018Hardwicke, T. E., Mathur, M. B., MacDonald, K., Nilsonne, G., Banks, G. C., Kidwell, M. C., Hofelich Mohr, A., Clayton, E., Yoon, E. J., Henry Tessler, M., Lenne, R. L., Altman, S., Long, B. & Frank, M. C. (2018). Data availability, reusability, and analytic reproducibility: Evaluating the impact of a mandatory open data policy at the journal Cognition. Royal Society Open Science, 5(8). Retrieved from http://rsos.royalsocietypublishing.org/content/5/8/180448 https://doi.org/10.1098/rsos.180448
http://rsos.royalsocietypublishing.org/c...
), de modo a evitar esforços redundantes. Desse modo, pesquisadores de áreas distintas como engenharia, medicina, administração, ou artes, podem, em projetos compartilhados, oferecer resultados de pesquisa que tenham maior capacidade de implicar em impacto efetivos na sociedade. Assim, sem soar repetitivo, problemas complexos como: qualidade de vida nas cidades, desigualdade social, segurança alimentar, ou segurança nacional, podem ser melhor endereçados via comunicação e trabalho em equipe de domínio conexo, com vistas à convergência.

A participação ativa dos cidadãos na produção de conhecimento é, também, uma realidade com impacto crescente. Porém, seja em que modalidade for, o envolvimento da sociedade está essencialmente condicionado à compreensão e à confiança por ela depositada na ciência, e consequentemente na comunidade de pesquisadores. Comunicar de maneira simples e objetiva, ainda que sujeita ao rigor necessário, inteligível o suficiente para ser compreendida por diferentes stakeholders relevantes, entre esses: cidadãos, jornalistas, legisladores ou tomadores de decisão em diferentes níveis, é igualmente relevante. Para tanto, o diálogo com a sociedade é também vital, sobretudo na identificação de temas que demandam investigação, e de problemas que precisam de ser solucionados, seja com uso de tecnologias, ou por meio de dispositivos de legais.

Os estudantes devem desempenhar papel chave na interlocução do pesquisador com a sociedade. A esse respeito o pesquisador deve estimular a curiosidade e a criatividade dos estudantes, de maneira a guia-los no ambiente de pesquisa científica orientada a colaborar na solução de problemas testemunhados pela sociedade. Em consequência, é esperado que os estudantes sejam capazes de: formular perguntas adequadamente estruturadas, buscar informações relevantes e críveis, e concatenar argumentos e pontos de vista. Ao resgatar as palavras do Professor Lee Sing Kong, o ecossistema de pesquisa deve ser capaz de viabilizar que os estudantes aprendam em contexto de pesquisa, ao tornarem-se cidadãos conscientes e responsáveis; e profissionais versáteis, capazes de responder a incontáveis desafios modernos, nos quais a mudança e a incerteza não são algo raro.

Palavras finais

A RAC, assim como o Brasil, inicia 2019 com várias mudanças, e um rol de boas expectativas. Nesta edição publicamos seis artigos inéditos e um caso para ensino. O primeiro artigo inédito publicado nesta edição da RAC intitula-se Humor Incongruente, Efetividade da Propaganda e as Mulheres: Um Experimento no Facebook, é de autoria de Luciana Ribeiro, Martin de La Martinière Petroll, Fernanda Scussel, e Claudio Damacena. O objetivo da pesquisa é analisar como propagandas com humor classificado como incongruente, veiculadas na rede social Facebook, atuam no engajamento, nas atitudes e na intenção de compra das consumidoras. O procedimento metodológico apresenta-se como um experimento conduzido mediante a participação de 269 indivíduos. A partir desses dados os autores buscam testar se a presença de humor incongruente influencia a efetividade das propagandas.

O segundo artigo inédito, de autoria de Marilia Assumpção, Solange Alfinito, e Breno Giovanni Adaid Castro, Consumo de jornal impresso e online: impresso é status, online é facilidade, consiste em um estudo que busca avaliar como variáveis motivacionais (i.e., valores humanos e axiomas sociais), bem como julgamentos afetivo e racional, influenciam o uso de jornal impresso e online. Os autores adotaram o Modelo de Influência Cultural no Consumo (MICC). A pesquisa foi conduzida em duas etapas com leitores de jornais impresso e online.

O terceiro artigo, Para Onde Estamos Caminhando? Uma Análise das Pesquisas em Governança Corporativa é uma revisão da literatura de governança corporativa, de autoria de Fernanda Kreuzberg e Ernesto Fernando Rodrigues Vicente. Os autores selecionaram 31 artigos teóricos, e 59 artigos empíricos, e a partir disso defendem que foram identificadas oportunidades de pesquisa dentro de uma abordagem interpretativista e crítica, com vistas a contribuir para orientar novos estudos.

O quarto artigo é de autoria de Vinicius Costa da Silva Zonatto, Aline Weber, e Juliana Constâncio Nascimento, e intitula-se Efeitos da Participação Orçamentária na Assimetria Informacional, Estresse Ocupacional e Desempenho Gerencial. A pesquisa investiga os efeitos da participação orçamentária na assimetria de informação, no estresse ocupacional, e no desempenho gerencial junto a 121 gestores com responsabilidade orçamentária em organizações industriais brasileiras.

Tatiana Iwai, Adriana Bruscato Bortoluzzo, Lina Eiko Nakata, e José Eduardo Teixeira Costa compõem a autoria do artigo inédito intitulado Força de Clima: Seu Papel Moderador na Relação Entre Clima e Turnover. Nesse trabalho os autores buscam examinar o efeito de força de clima no turnover em nível organizacional. Para isso, eles empregam dados de uma amostra composta de mais de 25.000 indivíduos, de 150 empresas de médio e grande porte de diversos setores. Eles testaram o efeito direto e o moderador de força de clima em cinco dimensões de clima no nível de turnover coletivo.

O sexto e último artigo inédito tem como título Efeitos do Exploration, Exploitation e Ambidestria no Desempenho das Organizações de Software, e possui como autores Elizandra Severgnini, Edwin Vladimir Cardoza Galdamez, e Valter Afonso Vieira. O objetivo perseguido pelos autores desse trabalho foi examinar como a congruência entre dualidades afeta o desempenho. Por meio de um levantamento com 227 empresas de software. Os autores testam hipóteses relacionadas à congruência e à interação dos dois fatores da ambidestria. Completa esta edição da RAC um caso para ensino cujo título é Empreendi, e agora? Oportunidades no Setor de Alimentação Saudável, de autoria de Beatriz Saggioro Massolino, Simone Galina, e Erasmo José Gomes.

Como comunidade, nós pesquisadores, precisamos estar sensíveis e conscientes da necessidade de desenvolver habilidades dos nossos pesquisadores de modo a permitir que eles se mantenham capazes de realizar pesquisas que venham ao encontro daquilo que é demandado pela sociedade, em diferentes horizontes de tempo. Não podemos ser insensíveis às mudanças que se apresentam, mantendo antigas práticas de ensino e pesquisa. Convergência e comunicação podem desempenhar o papel de bússolas para o Norte que nós pesquisadores da área de negócios devemos almejar: impacto na sociedade.

Neste primeiro número de 2019, desejamos a todos os leitores, revisores e autores um excelente ano e uma leitura inspiradora!


Indicadores do Processo Editorial da RAC (janela móvel agosto/2017 a julho/2018)

Referências

  • Ansari, Z. N., & Kant, R. (2017). Exploring the framework development status for sustainability in supply chain management: A systematic literature synthesis and future research directions. Business Strategy and the Environment, 26(7), 873-892. https://doi.org/10.1002/bse.1945
    » https://doi.org/10.1002/bse.1945
  • Battard, N. (2012). Convergence and multidisciplinarity in nanotechnology: Laboratories as technological hubs. Technovation, 32(3/4), 234-244. https://doi.org/10.1016/j.technovation.2011.09.001
    » https://doi.org/10.1016/j.technovation.2011.09.001
  • Benyus, J. M. (1997). Biomimicry, innovation inspired by nature New York, NY: HarperCollins e-books.
  • Brooks, C., & Schopohl, L. (2018). Topics and trends in finance research: What is published, who publishes it and what gets cited? The British Accounting Review, 50(6), 615-637. https://doi.org/10.1016/j.bar.2018.02.001
    » https://doi.org/10.1016/j.bar.2018.02.001
  • Budhwar, P., Tung, R. L., Varma, A., & Do, H. (2017). Developments in human resource management in MNCs from BRICS nations: A review and future research agenda. Journal of International Management, 23(2), 111-123. https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04.003
    » https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04.003
  • Cappellaro, G. (2017). Ethnography in public management research: A systematic review and future directions. International Public Management Journal, 20(1), 14-48. https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04.003
    » https://doi.org/10.1016/j.intman.2017.04.003
  • Chesbrough, H. (2010). Business model innovation: Opportunities and barriers. Long Range Planning, 43(2/3), 354-363. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2009.07.010
    » https://doi.org/10.1016/j.lrp.2009.07.010
  • Ertas, A., Maxwell, T., Rainey, V. P., & Tanik, M. M. (2003). Transformation of higher education: The transdisciplinary approach in engineering. IEEE Transactions on Education, 46(2), 289-295. https://doi.org/10.1109/TE.2002.808232
    » https://doi.org/10.1109/TE.2002.808232
  • Foss, N. J., (1994). The biological analogy and the theory of the firm: Marshall and monopolistic competition. Journal of Economic Issues, 28(4), 1115-1136. https://doi.org/10.1080/00213624.1994.11505614
    » https://doi.org/10.1080/00213624.1994.11505614
  • Guha, S., & Kumar, S. (2018). Emergence of big data research in operations management, information systems, and healthcare: Past contributions and future roadmap. Production and Operations Management, 27(9), 1724-1735. https://doi.org/10.1111/poms.12833
    » https://doi.org/10.1111/poms.12833
  • Gustafsson, V., & Schwarz, E.J. (2013). Business modelling and convergence. In S. Diehl & M. Karmasin (Eds.), Media and convergence management Springer International Publishing. Retrieved from https://pdfs.semanticscholar.org/faf4/595e1e4ff8f5cf4ce33302725cc56873a8ab.pdf https://doi.org/10.1007/978-3-642-36163-0_2
    » https://pdfs.semanticscholar.org/faf4/595e1e4ff8f5cf4ce33302725cc56873a8ab.pdf» https://doi.org/10.1007/978-3-642-36163-0_2
  • Hardwicke, T. E., Mathur, M. B., MacDonald, K., Nilsonne, G., Banks, G. C., Kidwell, M. C., Hofelich Mohr, A., Clayton, E., Yoon, E. J., Henry Tessler, M., Lenne, R. L., Altman, S., Long, B. & Frank, M. C. (2018). Data availability, reusability, and analytic reproducibility: Evaluating the impact of a mandatory open data policy at the journal Cognition. Royal Society Open Science, 5(8). Retrieved from http://rsos.royalsocietypublishing.org/content/5/8/180448 https://doi.org/10.1098/rsos.180448
    » http://rsos.royalsocietypublishing.org/content/5/8/180448» https://doi.org/10.1098/rsos.180448
  • Iansiti, M., & Levien, R. (2004). Strategy as ecology. Harvard Business Review, 68-78.
  • Linton, J. D., Klassen, R., & Jayaraman, V. (2007). Sustainable supply chains: An introduction. Journal of Operations Management, 25(6), 1075-1082. https://doi.org/10.1016/j.jom.2007.01.012
    » https://doi.org/10.1016/j.jom.2007.01.012
  • Lovins, A. B., Lovins, L. H., & Hawken, P. (1999). A road map for natural capitalism. Harvard Business Review, 73(3), 145-158.
  • Madera, J. M., Dawson, M., Guchait, P., & Belarmino, A. M. (2017). Strategic human resources management research in hospitality and touri c\sm: A review of current literature and suggestions for the future. International Journal of Contemporary Hospitality Management, 29(1), 48-67. https://doi.org/10.1108/IJCHM-02-2016-0051
    » https://doi.org/10.1108/IJCHM-02-2016-0051
  • Medina, P., Goles, E., Zarama, R., & Rica, S. (2017). Self-organized societies: On the Sakoda model of social interactions. Complexity, (2), 1-16. https://doi.org/10.1155/2017/3548591
    » https://doi.org/10.1155/2017/3548591
  • Mendes-Da-Silva, W. (2019). Individual behaviors and technologies for financial innovations New York: Sage. https://doi.org/10.1007/978-3-319-91911-9
    » https://doi.org/10.1007/978-3-319-91911-9
  • Moore, J. F. (1993). Predators and prey: The new ecology of competition. Harvard Business Review, 71(3), 75-83.
  • National Academies of Sciences, Engeneering and Medicine . (2014). What is conve rgence? Retrieved from https://youtu.be/QTP3X_qExcQ
    » https://youtu.be/QTP3X_qExcQ
  • National Science Foundation. (2016). NSF's 10 big ideias Retrieved from https://www.nsf.gov/news/special_reports/big_ideas/index.jsp
    » https://www.nsf.gov/news/special_reports/big_ideas/index.jsp
  • Nyberg, A. J., Moliterno, T. P., Hale, D., & Lepak, D. P. (2014). Resource-based perspectives on unit-level human capital: A review and integration. Journal of Management, 40(1), 316-346. https://doi.org/10.1177/0149206312458703
    » https://doi.org/10.1177/0149206312458703
  • Peltoniemi, M., & Vuori, E., (2004). Business ecosystem as the new approach to complex adaptive business environments. e-Business Research Center - Frontiers of e-Business Research, 267-281.
  • Ryan, C. (2018). Future trends in tourism research - Looking back to look forward: The future of 'Tourism Management Perspectives'. Tourism Management Perspectives, 25, 196-199. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2017.12.005
    » https://doi.org/10.1016/j.tmp.2017.12.005
  • Schneider, M., & Somers, M. (2006). Organizations as complex adaptive systems: Implications of complexity theory for leadership research. The Leadership Quarterly, 17(4), 351-365. https://doi.org/10.1016/j.leaqua.2006.04.006
    » https://doi.org/10.1016/j.leaqua.2006.04.006
  • Science Europe. (2014, September 18 and19). Workshop Report: Convergence of Disciplines Retrieved from https://www.scienceeurope.org/wp-content/uploads/2015/12/Workshop_Report_Convergence_FINAL.pdf
    » https://www.scienceeurope.org/wp-content/uploads/2015/12/Workshop_Report_Convergence_FINAL.pdf
  • Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
  • Tanco, M., Escuder, M., Heckmann, G., Jurburg, D., & Velazquez, J. (2018). Supply chain management in Latin America: current research and future directions. Supply Chain Management, 23(5), 412-430. https://doi.org/10.1108/SCM-07-2017-0236
    » https://doi.org/10.1108/SCM-07-2017-0236
  • TV Cultura. (2016, maio 19). Roda Viva - Lee Sing Kong Recuperado de https://youtu.be/t-Io2ZfqUtU
    » https://youtu.be/t-Io2ZfqUtU

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2019
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração Av. Pedro Taques, 294,, 87030-008, Maringá/PR, Brasil, Tel. (55 44) 98826-2467 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: rac@anpad.org.br